Vinyar Tengwar 50

Recebi há aproximadamente 2 meses o Vinyar Tengwar 50 (VT50). Essa edição trata de um documento que o editor Carl Hostetter chamou de “invólucro de Túrin”: um pedaço de papel onde Tolkien enrolava os manuscritos de Os Filhos de Húrin.

Os textos em línguas tolkienianas são todos em Sindarin, aproximadamente do início da década de 1950, e tratam da tradução para essa língua de frases que deveriam significar aproximadamente “o Grande Conto também chamado de os Filhos de Húrin, feito pelos homens, mas agora os elfos ainda o [?lembram/preservam/recitam]” nas áreas II e III; na área IV, há uma fala de Rían para Tuor, que provavelmente significa “E disse Rían a Tuor: o que fizemos? Agora todas as [?terras/mãos/corações] dos anões e dos elfos estarão [?opostas/silenciosas] para nós”.

Dessas frases, há algumas informações interessantes que eu gostaria de abordar.

Voz passiva em Sindarin

Hostetter nota que a formação i eithro en estar iChin Húrin “[a Grande Canção] que também é chamada de os Filhos de Húrin” (VT50:12) é muito semelhante a i sennui Panthael estathar aen “que deve ser chamado de Fullwise”, na Carta do Rei (SD:129).

Comparando as formações, ele analisa que a desinência -r em um verbo em conjunção com as partículas en e aen é muito provavelmente um marcador de voz passiva. Ademais, en parece ser a forma indicativa, enquanto aen é a forma subjuntiva.

  • en [verbo] + -r: presente do indicativo na voz passiva
  • [verbo] + -thar aen: futuro do subjuntivo na voz passiva

O próprio editor nota que há uma análise no VT31:16–7 em que aen pode ser um cognato Sindarin do Quenya nai. Contudo, se eu fosse fazer um texto em Sindarin hoje, eu utilizaria a avaliação acima.

O marcador de voz passiva -r também é aparentemente utilizado na palavra thor “estarão” (VT50:23).

Novo vocabulário

Como Tolkien não fez tradução alguma das frases no invólucro, o editor teve de deduzir as traduções. Por conta disso, considere as palavras abaixo como não muito confiáveis.

Os advérbios eithro “também” [ing. also] (ibid, pp. 12–3, ), eno “ainda” [ing. still] (pp. 15, 17, 19) e ero “somente” [ing. alone] (pp. 17–8) são interessantes adições. A conjunção ach “mas” (p. 15) também é novidade.

Thor como “estarão” (p. 23), na voz passiva, vem de natho “estarão” (veja linnathon “eu cantarei”, no A Elbereth Gilthoniel). Den, segundo Hostetter, “pode ser explicado como um cognato participial de dan” com o sentido de “contra, em oposição a algo/alguém” (p. 25).

Por fim, a palavra epholar pode significar “lembrar”, “preservar” ou “recitar”. Há uma grande discussão sobre o significado desse verbo ephola- nas pp. 15–7.