Dicionários Élficos

De vez em quando eu posto aqui uma novidade sobre Dicionários Élficos, mas eu acho que é necessário clarificar alguns pontos sobre eles.

Ponto 1: Tolkien não criou eles

Isso é importante que todos saibam: Esses dicionários que estão na internet não foram escritos por Tolkien, mas sim compilações criadas por fãs. Essas compilações que eu digo, são o Dicionário Hiswelóke de Sindarin, o Quettaparma Quenyanna/Quenyallo e Parviphith Edhellen, a EldarinWiki, e o dicionário de Quenya da Lambendili da Toca SP, entre outras que existem em outras tantas línguas.

O objetivo delas é, geralmente, ser um apoio ao compositor de textos neo-élficos, com um propósito secundário de ajudar no estudo acadêmico das línguas.

Ponto 2: Mais de 50 anos de desenvolvimento

Tolkien já inventava línguas desde a infância, mas é possível dizer que as línguas élficas começaram a ser desenvolvidas por Tolkien na década de 1910. Avalia-se que entre 1915 e 1917, Tolkien escreveu o Qenya Lexicon e o Gnomish Lexicon, publicados nos jornais Parma Eldalamberon 12 e 11 respectivamente. Abaixo segue a primeira estrofe de um poema anterior a 1931 em Qenya chamado Oilima Markirya “Última Arca” (MC:213):

Man kiluva kirya ninqe
oilima ailinello lúte,
níve qímari ringa ambar
ve maiwin qaine?

A seguir, o mesmo poema, mas já na década de 1970 (p. 222; correções de possíveis erros de transcrição entre colchetes):

M[a]n kenuva fán[a] kirya
métima hrestallo kíra,
i fairi néke
ringa súmaryasse
ve maiwi yaimië?

Ou seja, no mínimo tivemos 58 anos de desenvolvimento das línguas élficas, onde a forma e o significado das palavras mudavam radicalmente em certos momentos.

Ponto 3: 28 anos entre Etimologias e SdA

Muito do vocabulário utilizado em dicionários élficos da internet, pela escassez de textos élficos datados de depois do SdA, vem de um texto chamado “As Etimologias”, que está no livro The Lost Road and Other Writings da série History of Middle-earth.

“As Etimologias” foi escrito entre 1937-8, contendo raízes do “proto-Eldarin” seguidas das palavras desenvolvidas a partir dessas raízes em várias línguas. O Senhor dos Anéis foi lançado em 1954-5, ou seja, 17 anos (e uma Guerra Mundial) depois. Para deixar o cenário mais, er, “rico”, uma segunda edição, com modificações notáveis aos textos élficos (e ao contexto de ao menos um nome notável) foi lançada em 1965, 28 anos depois de “As Etimologias”.

Eu tenho 23 anos. Há 17 anos atrás eu sabia apenas escrever meu primeiro nome. Espero que tenham entendido minha analogia.

Ponto 3: O que não estava publicado, era liberado para Tolkien

Há alguns dias eu escrevi sobre o substantivo “vida” no blog, e como Tolkien, em textos pós-SdA, não fixou-o nem em kuivie, nem em koivie. Ambas as formas da palavra nunca foram publicadas durante a vida do Professor, o que deixava ele livre para modificá-las.

Conclusão: O que fazer?

É necessário ter uma noção muito clara do que você quer fazer com as línguas élficas. As chances hoje é que, no Brasil, você esteja tentando compor seus próprios textos para o Quenya ou o Sindarin e, para fazê-lo, você precisa de um vocabulário que:

  • Em um primeiro momento, supra sua necessidade de um “dicionário” de forma fácil e rápida, utilizado por todos aqueles com quem você quer se comunicar.
  • Em um segundo momento, permita que você compreenda o contexto no qual essas palavras deveriam ser utilizadas, segundo Tolkien.
  • Em um terceiro momento, permita que você saiba quando foi a última vez que Tolkien colocou cada palavra no papel.

A importância é que, no primeiro momento, você poderá traduzir prontamente e ser compreendido. No segundo momento, você já estará um pouco mais preocupado em como aprimorar suas traduções, e perceberá que o Quenya e o Sindarin são dependentes da existência da Terra-média, que tinha suas próprias idiossincrasias; portanto compreender o contexto em que as palavras devem ser utilizadas é importante (ver exemplo aqui).

Finalmente, no terceiro momento, é permitido a você fazer uma decisão: Quero continuar usando o vocabulário desse outro fã? Por completo? Em parte? Quero criar meu próprio?

No meu caso, venho utilizando o Quettaparma Quenyanna/llo da Ardalambion (em inglês) há anos, mas notei que o meu modo de utilizá-las vem mudando ao longo dos anos. Nunca mais considerei que a primeira palavra listada é “a melhor”: eu analiso todas as formas e decido qual prefiro. Quando traduzo nomes, tento não utilizar palavras do “Qenya Lexicon” (mencionado acima) ou The Book of Lost Tales (os dois primeiros volumes da série “History of Middle-earth”), mas eu não teria como fazer isso sem olhar de onde vêm essas palavras: invariavelmente QL, LT1 e LT2 nas fontes. Eu também procuro não utilizar palavras de “As Etimologias” sem verificar as opções disponíveis: as vezes elas vêm antes de palavras que estão em textos de 1960 ou mais, como o ensaio “Quendi and Eldar”, no livro War of the Jewels. Finalmente, eu decidi que eu devo sentir-me confortável com as palavras que escolho (ex: não gosto da palavra cöa “casa”, mas gosto da palavra mar “morada”; como resultado, quase não uso a primeira).

Mas esse é o meu sistema e as minhas recomendações. Quais são as suas recomendações e o seu sistema?

23 pensou em “Dicionários Élficos

    1. Não creio que é a melhor forma de expressar. Caso queira dizer “eu te amo, meu tesouro”, eu diria inye tye-méla, harmanya, ou inye tye-méla, mírenya.

      Foa parece ter se tornado obsoleta com esse significado ainda na década de 1920, sendo que essas outras palavras que eu te disse mantiveram-se com esse significado após O Senhor dos Anéis ter sido finalizado em 1955.

  1. Olá amigos!

    Há uns dois anos, ví no SBT, um dos programas do Cem contra um, no qual a produção havia reunido somente fãs do senhor dos anéis,star wars, e outros,e no qual os conhecimentos do participante principal sobre o senhor dos anéis, seriam desafiados,e quando roberto justus perguntou se o Élfico poderia ser ultizado como uma língua,o participante principal respondeu que Tolkien Não havia criado palavras em élfico suficientes para isto.
    Eu gostaria de perguntar,se no caso dele estar errado,e haver palavras suficientes para que o élfico possa ser usado como uma língua,onde posso aprende-las?

    Aguardo sua resposta!

    Ellen sillá lúmen omentielvo!

  2. Olá, queria traduzir alguns verbos e substantivos, como posso fazê-lo, existe algum tipo de dicionário online?? Vou usá-los na confecção de um livro, portanto, não sei quando necessitarei de mais traduções, no entanto, o que tenho agora são as seguintes palavras: consertar, fogo, defesa,despertar, atacar,”Rouba Almas”, por enquanto é só. Entenderei se não puder traduzir.

    Obrigado

  3. Muito obrigado pela elucidação que deu sobre o Élfico…por que para muita gente investir tempo aprendendo isso é tolice, loucura até. Mas isso combate ,muitas vezes ,a insensatez de grande parte da realidade. E talvez burlar o padrão de vida cruel oferecido a nos todos os dias, nos torne pessoas mais forte. Por isso, penso que a obra de Tolkien , e a sua genialidade, não alimenta apenas nossas imaginações, más também nossas almas…

  4. Eu e minha namorada gostariamos de fazer uma inscrição nas nossas alianças de compromisso “Amor Verdadeiro” em élfico, gostaria de ter certeza absoluta da tradução, e também gostaria de aprender um pouco da lingua elfica, me recomenda algum site ou coisa assim?

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.