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Homem trabalhando

No momento, estou tentando resolver problemas que ocorreram com a instalação da minha nova conexão, que é de 1mb. Devido ao mexe-remexe no meu computador, está muito difícil trabalhar em um artigo que estou escrevendo para cá.

A sorte para aqueles que estudam Sindarin e sabem inglês é que não dependem de mim para ler sobre o assunto. É só dar uma visitadinha nesta mensagem da Lambengolmor do Bertrand Bellet, tratando sobre “vocalização de consoantes implosivas em Noldorin e Sindarin”. Quem utiliza vocabulário das Etimologias precisa compreender essas regras para “atualizá-las” ao desenvolvimento fonológico desenvolvido mais tarde por Tolkien.

Brancura Élfica

Estava eu aqui a traduzir alguns nomes em Quenya e Sindarin que me pediram há muito tempo. (Desculpe!) Um deles é “Bianca”, que como aprendi vem do francês Blanche “branco(a)”.

Para quem não sabe, os elfos adoram a cor branca. Adoram tanto que inventaram um monte de palavras para diversos tipos de branco. Listo abaixo as palavras para a cor branca em Quenya e Sindarin, excluindo ainda as que aparecem em obras pré-SdA. Primeiro em Quenya:

  • ninquë “frio, pálido”. Se refere, na verdade, mais à temperatura do que à brancura — S:456, mas cf. XI:417.
  • fána “branco como as nuvens”. Aparece em MC:221, no famoso poema Markirya. Utilizado para referir-se à brancura das nuvens — cf. fanyar “nuvens” em Namárië. O termo é relacionado com os fanar, os corpos angelicais que os Valar e Maiar utilizavam para serem visíveis aos Filhos de Eru.
  • adj. lossë “branco como a neve” (há um substantivo lossë “neve” também). Discutido em RGEO:69, na análise do poema Namárië por Tolkien.

Agora em Sindarin:

  • nim é um cognato do Q. ninquë (S:456)
  • fain é o cognato do Q. fána. Nas Etimologias é encontrado como fein, mas ei do Noldorin nesta fonte geralmente leva a ai no Sindarin tardio. Como um adicional, o nome original das Ered Nimrais lit. “montanhas dos chifres brancos era “Montanhas de Eredfain” (VIII:288), onde ered + fain “montanhas + brancas”.
  • glos(s) é o cognato do adj. do Q. lossë (RGEO:70)
  • *glân “branco brilhante, luminoso, claro, resplandecente”. Atestado sob mutação suave em Curunír ‘Lân “Saruman, o Branco” (CI:428), sem indicativos do tipo de brancura; contudo, o dicionário Hiswelóke faz um bom trabalho traçando paralelos com a raiz GALÁN “brilhante” das Etimologias (VT45:13), o gnômico glan (PE11:39) “‘claro, puro’, de ‘brilhante’ originalmente” diz o autor Didier Willis e o próprio galês glan (que possui vogal longa, embora as convenções ortográficas do galês não mostre). Talvez o cognato em Q. seja *alan, que é listado em VT45:13 como “daytime” (ou seja, o tempo durante um dia em que o sol aparece).

A parte mais engraçada (para quem não está traduzindo, claro) é que a tradução mais “neutra” de branco é, em minha opinião, *glân! Mas eu sou um cara democrático, então vou fazer uma votação: como você acha que eu deveria traduzir “Bianca”?

Notícias do dia 7/8/2007

Notícias sobre as línguas élficas ou assuntos relacionados no dia 7/8/2007:

  • O blog do estudioso tolkieniano Michael Martinez (Tolkien Studies) foi atualizado falando sobre a MERPCon III, evento patrocinado pela MERP.com tratando sobre o RPG tolkieniano. Você pode ouvir o Martinez falando durante o evento neste arquivo de audio.
  • A maior parte do post do Martinez foi sobre o lançamento de uma publicação voltada a esse assunto: Other Minds. Segundo os editores, a intenção não é rivalizar com o fanzine Halls of Fire, mas sim abranger áreas que o este não cobre: épocas que não a da Guerra do Anel, sistemas que não seja o CODA. A primeira edição traz um espetacular set de mapas para uso em campanhas, feito por um grupo de cartógrafos liderados por Thomas Morwinsky.
  • O clima ficou tenso desde que o norueguês Helge Fauskanger lançou (na E:34259) a revisão preliminar das listas de palavras em Quenya na Ardalambion. O alemão Thorsten Renk (Parma Tyelpelassiva, Curso de Sindarin) discordou de uma forma um tanto ríspida em E:34264 da posição do Helge relativo à confiabilidade que a nova tabela de pronomes pode trazer para o cenário do neo-élfico. Houve mais um par de mensagens, E:34281 e E:34283. Segundo Thorsten, não há um problema de falta de informação sobre os pronomes do Quenya, mas sim uma sobrecarga de informação conflitante. Ele menciona a desinência -t, que reconhecíamos como a versão curta da 3ª pessoa do plural — agora sabemos que Tolkien imaginou nessa tabela que -t é o dual da 3ªp.pl. (ver tabela de 1968), e isso conflita com a tradução do Pai Nosso em VT43. Diz Thorsten: “Siv’ emme apsenet agora significaria ‘como nós dois (exclusivo) perdoaríamos eles dois’ – então pecados e pecadores vêm em pares.”
  • Neste meio tempo, Thorsten atualizou alguns artigos no Parma Tyelpelassiva: O Sistema Pronominal do Quenya, contendo informções cronológicas sobre o desenvolvimento externo, desde o Qenya de 1917; O Pretérito do Quenya, igualmente cronológico e contendo informações novas do VT49; e um artigo original sobre o Modo Sindarin com tehtar das tengwar, seguindo o mesmo estilo dos artigos sobre línguas. Ele promete lançar em breve artigos sobre o verbo ser/estar e numerais em Quenya.
  • The J.R.R. Tolkien Companion and Guide (de Wayne Hammond e Christina Scull) ganhou o Mythopoeic Awards na categoria “Mythopoeic Scolarship Award in Inklings Studies”. Se eu fosse obrigado a fazer uma aposta quando noticiei a lista de indicados há dois meses atrás, seria essa. Venho lendo os livros deles nesse último mês e posso dizer que o nível de detalhismo deles é espetacular. No Chronology eles encontraram até as datas onde Tolkien jogou rugby pela escola.

Tolkien Estate com novo site

A Tolkien Estate (o espólio de J.R.R. Tolkien) lançou um novo site ontem, em comemoração ao lançamento de Os Filhos de Húrin, o novo livro que conta a história de Túrin Turambar e sua família.

O que me chamou a atenção foi o menu superior em Tengwar: O esperado I Chîn Húrin em Sindarin para “Os Filhos de Húrin”, e em Quenya Certar para “FAQ/Perguntas Freqüentes”, um inesperado Natsenómë para “website” e Mentar para “mensagens”. Fico me perguntando se a moda vai pegar entre os sites tolkienianos!

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 2)

Esta é a segunda parte da discussão sobre a qualidade do élfico dos filmes d’O Senhor dos Anéis. Se você não leu a primeira parte, pode acessá-la por este link.

Na mensagem 33732, Bill Welden (membro da E.L.F.) escreveu (todas as ênfases são minhas):

Então, Matthew. Digamos que [Peter Jackson et alii] conseguissem que o próprio Tolkien fizesse as traduções; mas mantivessem sua participação secreta.

Qual você supõe que seria sua avaliação da qualidade das traduções? (Note que haveria mais do que algumas palavras que nós nunca vimos antes.)

Assim como nós iríamos ouvir muitas novas palavras e funções gramaticais e variações dialetais e sinônimos (por que não podem existir duas palavras para “nome”?) – e até mesmo erros – se nós pudéssemos escutar por trás das portas a elfos de verdade falando uns com os outros.

Minha maior esperança para o filme circulava em torno da possibilidade que ele iria criar a impressão de realmente ter sido rodado na Terra-média.

– Bill

P.S.: Eu lanço esta questão neste ângulo pois vai ao núcleo do que fazemos aqui. O padrão pelo qual composições em élfico são julgadas tem um quê das Novas Roupas do Imperador. Isto pode começar a ficar claro se alguém colocasse esse padrão em palavras.

Em outras palavras, Bill Welden fez uma pergunta que assombra os praticantes do Neo-Élfico há muito tempo: como julgar essas novas composições como “corretas” se o próprio Tolkien quebrava suas regras quando compunha?

Seguindo um pedido de Helge Fauskanger na mensagem 33740 para clarificar a sua metáfora, Welden decide utilizar uma metáfora mais fácil de explicar:

[E]stamos todos procurando por gemas em um grande campo, mas somos castigados sempre que nos distanciamos demais do ponto central do campo. O que acontece é que, ao invés de tentar encontrar as gemas nós estamos mais interessados em garantir que não seremos aquele que estará mais longe do centro; mas ao fazê-lo torna-se muito menos provável que encontremos algo.[…]

[…]O campo são todas as possibilidades que Tolkien poderia seguir com o Quenya. O centro do campo é a forma mais provável de qualquer palavra ou função. As gemas são as composições que ele eventualmente faria se fosse dado tempo para as geleiras descerem mais uma vez em Bornemouth.

Tolkien era quase sempre surpreendente em suas composições. Por outro lado, qualquer um que se foque em qual seriam as formas mais prováveis, está na verdade se dando a tarefa de não ser surpreendente; e isso garante que eles sairão com algo diferente do que Tolkien produziria.

Welden finaliza explicando sua primeira metáfora:

Aqui é onde tudo sai dos trilhos: é a presunção de que o Quenya existe e tem guardiões da gramática prontos para cortar dedos.[…]

As roupas do imperador, eu suponho, são as regras do Quenya. Nós não as sabemos. Você [Helge] não as conhece, embora quase todos aqui pensem que você sabe. Eu não as conheço, mesmo que algumas pessoas achem que eu tenho um baú secreto. Mas o maior mito é que Tolkien as conhecia.

E então o imperador deve ser Tolkien. Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. Sou eu que preciso dizer isto? Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. […] [E]le tinha permissão para modificá-la, e isto é aparente em seu trabalho.

Para quem está com medo de que o mundo lingüístico tolkieniano comece a ruir, não tema! 🙂 Welden garante que não está advocando em prol do “vale-tudo” nas línguas élficas. “Em um extremo, cada um de nós tem um julgamento que cada composição nós encontramos; mas há algumas pessoas para as quais o élfico da Grey Company está bem!” e que o que ele deseja “não são palavras em élfico amarradas umas às outras; mas uma Experiência do élfico que eu consegui através de Tolkien em primeiro lugar.” (Elfling 33768) Em troca, Welden pergunta a Thorsten Renk (escritor do Curso de Sindarin) qual é seu padrão para julgar as composições em Neo-Élfico. Ele responde na mensagem 33769:

Em minha experiência, se você quer introduzir alguém a uma língua, é útil manter a ficção de que existe uma gramática de Quenya (ou Sindarin) e que nós sabemos como uma forma seria flexionada.

[…]

Sua sugestão eu veria como um exercício avançado. Obviamente, para chegar mais perto de Tolkien, você já precisa ter visto muito de Tolkien, você precisa ter uma idéia para onde fluem suas idéias, quais eram bem quistas por ele e quais ele descartava facilmente. Poucas pessoas tem o conhecimento para ver isto, certamente uma minoria daqueles tentando compor em élfico. […] Se você me perguntar o que eu julgaria como “bom”, a primeira condição seria o núcleo da estrutura, as idéias que Tolkien não mudou, devem estar certas.

[…]

Então, hoje em dia eu tento experimentar um pouco mais – com as formas do pretérito que eu gosto melhor, com construções vistas em Qenya e coisas do tipo. Mas eu não recomendaria isto para qualquer pessoa, a não ser que ele(a) saiba por exemplo o esquema utilizado por Tolkien para construir palavras das raízes [do Proto-Eldarin].

[…]

Portanto há um caminho a trilhar enquanto se aprende mais, do élfico padrão a re-frasear e usar o élfico atestado até compreender os princípios para derivar suas próprias palavras e, por fim, ter uma opinião de que gramática élfica é aceitável para você, e o que eu acho que as pessoas deveriam fazer depende em onde elas estão neste caminho.

Na parte 3, as considerações finais.

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 1)

No dia 21 de dezembro, a mensagem 33718 da lista Elfling iniciou uma das mais extensas e divertidas discussões sobre o uso pós-Tolkien das suas línguas, rotulados de Neo-Quenya e Neo-Sindarin. Até hoje (6/1/2007) foram escritas 30 mensagens discutindo o tópico, 25 na lista Elfling, 5 na lista Elfling-D (esta última foi criada para aqueles que foram banidos ou censurados na Elfling). Os participantes incluem nomes ilustres, como David Salo (criador dos diálogos e das letras das músicas em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis), Helge Fauskanger (criador do Curso de Quenya), Thorsten Renk (criador do Curso de Sindarin), Bill Welden, Carl Hostetter e Patrick Wynne (membros da Elvish Linguistic Fellowship, os dois últimos via Elfling-D).

A mensagem original é de “Kirsten”, reproduzida abaixo:

Eu sei que algumas pessoas já trabalharam duro para descobrir o que significam os diálogos e a trilha sonora¹ em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis, mas já houve alguma discussão da qualidade das traduções para o élfico usadas nos filmes? Elas são de maneira geral corretas ou alguém já observou algum erro óbvio? Eu não sei sobre vocês, mas eu estou muito interessada nesse aspecto das traduções. Também, o que pode-se dizer das pronúncias? Eu realmente gostaria de ler uma discussão desses assuntos por um grupo de pessoas que conhecem bem as línguas de Tolkien.

Kirsten

Na resposta de Halrawrandir na mensagem 33720 o autor diz que “é necessário concordar” que as traduções foram as melhores possíveis. Contudo, Matthew Dinse na mensagem 33721 disse discordar, e listou “alguns problemas” do Sindarin nos filmes:

  • Uso de aen para voz passiva quando não sabemos qual é sua real função com certeza;
  • Uso de go como uma palavra separada e não um prefixo;
  • Formação do pretérito do Sindarin;
  • Uso de *-ch para “você”;
  • Gerúndios no plural;
  • Conjugação do verbo ista-;
  • Uso de *ae para “se”;
  • Uso de **hanna- como o verbo “agradecer” (ao invés de *anna-, segundo Carl Hostetter);
  • Uso de **ess para “nome”, embora eneth não houvesse sido publicado na época.

Desde essa mensagem de Matthew Dinse 26 outras foram escritas no tópico, criando três ramos diferentes de discussão.

Embora todas as mensagens possuam um valor imenso, manterei o foco apenas no terceiro ramo, criado por Bill Welden na mensagem 33732. O resumo será publicado na próxima mensagem, que você pode acessar por este link..

Fiquem ligados!


¹ Links adicionados pelo tradutor, por motivos de brevidade.