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Vinyar Tengwar 50

Recebi há aproximadamente 2 meses o Vinyar Tengwar 50 (VT50). Essa edição trata de um documento que o editor Carl Hostetter chamou de “invólucro de Túrin”: um pedaço de papel onde Tolkien enrolava os manuscritos de Os Filhos de Húrin.

Os textos em línguas tolkienianas são todos em Sindarin, aproximadamente do início da década de 1950, e tratam da tradução para essa língua de frases que deveriam significar aproximadamente “o Grande Conto também chamado de os Filhos de Húrin, feito pelos homens, mas agora os elfos ainda o [?lembram/preservam/recitam]” nas áreas II e III; na área IV, há uma fala de Rían para Tuor, que provavelmente significa “E disse Rían a Tuor: o que fizemos? Agora todas as [?terras/mãos/corações] dos anões e dos elfos estarão [?opostas/silenciosas] para nós”.

Dessas frases, há algumas informações interessantes que eu gostaria de abordar.

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Análise dos diálogos de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Essa notícia já está cheirando a podre, de tão velha, mas o site polonês Elendilion divulgou a análise completa dos diálogos em Sindarin de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada. A análise foi feita por Cerebrum, linguista húngaro do site Parf-en-Ereglas.

Neste momento eu não irei traduzir, pois estou esperando aprovação dos autores. Há também uma análise das outras línguas utilizadas no filme que eu pretendo traduzir, se me for dada permissão.

Línguas tolkienianas em “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”

Após assistir o filme na pré-estréia do dia 13, gostaria de dividir alguns comentários sobre as línguas. Percebi a presença de cinco línguas durante o filme: órquico, Sindarin, Quenya, Khuzdul e Iglishmêk.

O iglishmêk é uma linguagem de sinais, efetivamente a versão anã do LIBRAS e outras línguas parecidas para surdos e mudos. Eu percebi que Bifur, o anão com um machado cravado na testa, utiliza uma linguagem de sinais para falar com Gandalf, enquanto estão em Bolsão. Creio que possa ser o iglishmêk, mas não tenho certeza. De qualquer forma, não conhecemos nenhum gesto do iglishmêk, então não é possível analisá-lo.

O Khuzdul eu só escutei durante a batalha no portão leste de Moria, quando Thorin comandou a carga após derrotar Azog. No futuro, será analisável.

O Quenya foi usado em um encantamento feito por Radagast, para curar um porco-espinho. Really. Eu não recordo em qualquer outro momento, inclusive na hora em que Gandalf cura Thorin no fim do filme, em que o Quenya seja utilizado. Isso é condizente com os livros, onde Gandalf utiliza encantamentos em Sindarin (como naur an edraith ammen! para criar fogo). Nos filmes d’O Senhor dos Anéis, Gandalf utilizava Sindarin também para os encantamentos, enquanto Saruman utilizava Quenya.

Como Quenya já é mais minha área, posso dizer que não encontrei problemas com a pronúncia, mas admito que é meio difícil, já que Radagast balbuceava Quenya, em transe, ao invés de realmente utilizar a língua de maneira mais eloquente.

O Sindarin foi utilizado por Gandalf, Elrond, Galadriel e Lindir, cada um com um certo nível de aptidão. Existem pronúncias comuns que estavam erradas, como Dol Guldur, onde a segunda palavra era pronunciada como oxítona. Tanto no Sindarin quanto no Quenya, palavras com mais de uma sílaba nunca serão oxítonas, mesmo quando houver uma vogal “acentuada” (como Palantír). O Hugo Weaving continua sendo o melhor falante de Sindarin do elenco.

Tolkien nunca desenvolveu uma língua órquica completa, então presumo que David Salo (que já havia criado os diálogos em línguas tolkienianas para os filmes d’O Senhor dos Anéis) criou a língua órquica seguindo o estilo que o Professor imaginou para elas. Mesmo que seja uma invenção do David Salo, foi talvez a melhor aplicação das línguas de Tolkien, pela liberdade que deu aos atores que interpretaram aos orcs.

Parma Eldalamberon 14 e 18 disponíveis

Parma Eldalamberon 14

O Parma Eldalamberon, a publicação de línguas tolkienianas mais antiga ainda em circulação, lançou a sua edição 18 em novembro do ano passado e eu, ocupado com o trabalho, não fiz nenhuma menção dele aqui. Contudo, você ainda pode comprar a edição por 35 dólares (inclui postagem e frete para o Brasil) no site.

O Parma Eldalamberon 18 traz o Tengwesta Qenderinwa, uma gramática do quendiano primitivo feita na década de 1930, contemporânea às Etimologias. Tolkien fez revisões dessa gramática até a década de 1950, atualizando com o conteúdo que surgia enquanto ele compunha O Senhor dos Anéis. Também no PE18 está a segunda parte de um documento sobre os alfabetos fëanorianos, cuja primeira parte foi publicada no PE17, junto com “Palavras, Passagens e Frases d’O Senhor dos Anéis“. A edição 17 também custa 35 dólares e está disponível.

Já o Parma Eldalamberon 14, que estava há muito tempo fora de circulação, está sendo reimpresso com todas as correções requisitadas pelos leitores e deve estar disponível, segundo o site da publicação, no dia 8 de fevereiro, ou seja, na próxima segunda-feira. O preço dessa edição é 30 dólares, postagem e frete inclusos. Essa edição possui fragmentos e a gramática do Qenya das décadas de 1910-20, assim como informações sobre a escrita valmárica.

Não há harmonia na Terra-média

Não é nenhuma novidade que as línguas élficas tendem a não possuir palavras um tanto comuns para nós, mas eu não esperava que “harmonia” fosse uma delas, como descobri ontem conversando com meu caro amigo Phreddie.

Contudo, não é de ficar muito espantado. Nas quatro vezes que a palavra aparece n’O Silmarillion, três são no contexto musical. A última é Ilúvatar falando como os humanos não utilizariam seus dons em harmonia com os dos elfos. Não há um único uso da palavra harmonia em O Senhor dos Anéis ou O Hobbit, enquanto o Contos Inacabados traz “harmonia” novamente no contexto musical na história de Tuor.

Sabendo que Tolkien é muito cuidadoso com as palavras, é bem provável que ele não quisesse que a palavra “harmonia” fosse separada de sua conotação musical. Nesse caso a etimologia grega com o significado original literal “meio de unir” segundo o Online Etymology Dictionary não ajuda. A palavra anglo-saxã, contudo, ajuda: án-swége, literalmente “um som”, é um ponto de partida muito melhor.

Palavras para “um” não faltam: min e minë são ambas palavras válidas, assim como o prefixo er-. Para “som”, a que eu utilizaria seria lin, que Tolkien dá como “um som musical” em Cartas:293. Com Korlaire em MR:107 sendo o único exemplo que eu conheço do encontro consonantal -rl-, eu chegaria relutantemente à palavra erlin (erlind-) como a minha tradução de án-swége para Quenya.

Não tenho muita certeza de como proceder em Sindarin. Er- pode ser utilizado nessa língua, mas S. lind (reconstruído do N. lhind, lhinn) seria o cognato do Q. lindë “ária, melodia”. Eu não sei se o S. lîn (N. lhîn) “piscina” poderia ou deveria possuir uma palavra homófona. Na melhor das hipóteses, teríamos provavelmente erlin em Sindarin também.

Onde começar: Quenya ou Sindarin?

De vez em quando eu me deparo com alguém perguntando qual língua élfica essa pessoa deveria aprender primeiro. Tenho certeza em minha cabeça de que já respondi a essa pergunta antes, mas como não encontro onde escrevi sobre o assunto, aproveitarei para responder novamente.

Se você quer compor textos

Se o seu caso for esse, eu recomendaria começar com o Quenya. Os motivos seriam a disponibilidade de vocabulário pronto, uma maior facilidade na construção de palavras a partir de raízes do Quendiano Primitivo e a fonologia mais estável. A aparente desvantagem da gramática ser bem diferente da portuguesa pode se tornar uma vantagem ao partir para o estudo de outras línguas.

Se você quer simplesmente estudar, sem compor

Nesse caso, eu sugiro que você vá atrás do que você gosta. O Curso de Quenya deve lhe dar mais subsídios para compreender as idéias de Tolkien caso você não tenha muito domínio sobre o estudo de línguas — como eu, quando comecei — mas no fim do dia isso não importa tanto.

Estudo sobre Nomes de Sauron na Ardalambion

O norueguês Helge Fauskanger enviou para a lista Elfling o link para um artigo escrito por ele, chamado Names for a Dark Lord — que trata sobre os nomes para Sauron inventados por Tolkien. O tradutor da Ardalambion BR, Gabriel “Tilion” Brum, traduziu o artigo, que em português é Nomes para um Senhor do Escuro.

Não há muito o que falar do artigo. É bom de ler, tem boas informações, e traz boas informações para quem não sabia do histórico das aparições de Sauron antes de ele ser o tenente de Morgoth.

Qual povo fala qual língua?

Outra pergunta daquelas que são básicas (mas importantes!) para a compreensão das obras de Tolkien é: qual povo fala qual língua? Isto é extremamente complicado para qualquer pessoa que não tenha decidido estudar os povos élficos e os clãs de raças que tiveram influência élfica.

Abaixo está minha tentativa de explicar esta questão. Àqueles que já leram O Silmarillion estas ocasiões não serão novidade.

Anos das Árvores

  • 1050: Elfos despertam e inventam o Quendiano Primitivo;
  • 1105: Começa a Grande jornada e a primeira divisão entre os elfos: os Eldar começam a falar o Eldarin Comum, enquanto os Avari falam os dialetos Avarin;
  • 1105–1115: Em algum momento entre esses anos os Teleri formam um dialeto distinto, o Telerin Comum;
  • 1115: Uma parte dos Teleri se separam da Grande Jornada quando chegam ao rio Anduin e são chamados de Nandor, falando o Nandorin, ou “élfico silvestre”;
  • 1133: Os Vanyar e os Noldor chegam a Aman e começam a falar o Quendya;
  • 1151: Os Teleri liderados por Olwë chegam a Aman, e lá formam o Amanya Telerin (Telerin de Aman);
  • 1152: Elwë volta ao seu povo com Melian e a partir dalí são conhecidos como os Sindar. Em um primeiro estágio o Telerin Comum falado por eles torna-se o Sindarin antigo;
  • 1165: Os últimos Vanyar deixam Tirion, a cidade onde este povo e os Noldor moravam juntos. Os Vanyar continuam com o seu dialeto mais arcaico, o Quendya, enquanto os Noldor continuam a desenvolver seu gosto lingüístico até, eventualmente, chegar ao Quenya maduro;
  • Eventualmente durante os Anos das Árvores o Sindarin antigo amadureceu no Sindarin que conhecemos.

Primeira Era

  • Os Noldor foram forçados a abandonar o Quenya como língua falada na Terra-média, e passaram a falar o Sindarin.
  • Os filhos de Fëanor e seu povo possuíam um dialeto próprio, conhecido como Dialeto do Norte.
  • Em Doriath havia um dialeto daquela região.
  • Os filhos de Fingolfin e Finarfin, assim como o povo da região costeira (os falathrim) falavam o Dialeto do Sul.
  • Os anões falavam o Khuzdul entre si, mas falavam a língua de qualquer povo de sua vizinhança. Os anões que viviam em Nogrod e Belegost certamente falavam o Sindarin de forma fluente.
  • Os humanos da Casa de Bëor e da Casa de Hador (1ª e 3ª casas) falavam uma língua ancestral do Adûnaico. Contudo, começaram a falar o Sindarin quando entraram em contato com os Noldor.
  • Os humanos da Casa de Haleth (os haladin, a 2ª casa) falavam uma língua humana separada das outras casas, mas também aprenderam o Sindarin.
  • Os humanos que se aliaram a Morgoth provavelmente falavam suas línguas ancestrais e a Fala Negra, mas tiveram de aprender o Sindarin quando posaram de amigos dos filhos de Fëanor.

Segunda Era

  • Com a destruição do povo dos filhos de Fëanor e de Doriath, o único dialeto Sindarin que sobreviveu foi o Dialeto do Sul. Este tornou-se o Sindarin padrão, falado por todos os povos.
  • Os humanos em Númenor falavam o Sindarin e o Adûnaico de forma corrente, e o Quenya em ocasiões especiais ou em nomes;
  • Os humanos da Terra-média falavam seus idiomas: os Terrapardenses possuíam uma fala derivada da língua dos haladins, enquanto os humanos do norte (ascendentes dos rohirrim) falavam versões mais arcaicas das línguas de seus ancestrais da Casa de Hador;
  • Os elfos da Terra-média (da posterior Floresta das Trevas até a costa oeste) e de Tol-Eressëa falavam o Sindarin tranqüilamente.
  • Os que viviam ao leste da posterior Floresta das Trevas falavam seus dialetos Avarin.
Em um próximo artigo eu tratarei da Terceira Era.

Pretérito do Noldorin e ditongos “ei, ai” na Sindanórië

O estudioso Roman Rausch atualizou hoje seu excelente site, Sindanórië, com dois artigos:

  1. O pretérito do Noldorin inicial: Raush fala na Elfling que vários estágios do pretérito das línguas élficas já foram analisados na Tengwestië e no Parma Tyelpelassiva (gnômico, o Noldorin “d’As Etimologias”, o Sindarin e o Quenya), mas nada foi escrito sobre os estágios iniciais do Noldorin de 1923, apresentado no Parma Eldalamberon 13. Depois que nossas crenças sobre o pretérito do Sindarin da época do SdA foram detonadas pelo PE 17 eu comecei a acreditar que é importante olhar para tudo que foi escrito com muita atenção.
  2. Sobre os ditongos ai, ei em Noldorin e Sindarin: No Neo-Sindarin, quando atualizamos palavras “d’As Etimologias” para o Sindarin baseados nos exemplos que possuíamos antes do PE17, nosso conhecimento dizia para atualizar todo ditongo ei para ai, quando este estivesse na última sílaba. Rausch argumenta que os novos exemplos trazidos por esta última publicação mostram um padrão que não é tão simples assim.

Eu sei que alguns de vocês infelizmente ainda não lêem inglês, então as conclusões sobre a parte da “adaptação” do Noldorin para o Sindarin são estas:

  • N. ei < a na última sílaba torna-se S. ai;
  • N. ei < a em outras sílabas mantém-se como ei;
  • N. ei < e ou por vocalização pode se tornar S. ai assim como ei, mesmo na última sílaba;
  • N. ei < o, u pode se tornar ui (cf. S. fuir ‘norte’ (adj.) < *phorya (VT42:20)) ou ei (œi arcaico), mas nunca ai.