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Parma Eldalamberon 14 e 18 disponíveis

Parma Eldalamberon 14

O Parma Eldalamberon, a publicação de línguas tolkienianas mais antiga ainda em circulação, lançou a sua edição 18 em novembro do ano passado e eu, ocupado com o trabalho, não fiz nenhuma menção dele aqui. Contudo, você ainda pode comprar a edição por 35 dólares (inclui postagem e frete para o Brasil) no site.

O Parma Eldalamberon 18 traz o Tengwesta Qenderinwa, uma gramática do quendiano primitivo feita na década de 1930, contemporânea às Etimologias. Tolkien fez revisões dessa gramática até a década de 1950, atualizando com o conteúdo que surgia enquanto ele compunha O Senhor dos Anéis. Também no PE18 está a segunda parte de um documento sobre os alfabetos fëanorianos, cuja primeira parte foi publicada no PE17, junto com “Palavras, Passagens e Frases d’O Senhor dos Anéis“. A edição 17 também custa 35 dólares e está disponível.

Já o Parma Eldalamberon 14, que estava há muito tempo fora de circulação, está sendo reimpresso com todas as correções requisitadas pelos leitores e deve estar disponível, segundo o site da publicação, no dia 8 de fevereiro, ou seja, na próxima segunda-feira. O preço dessa edição é 30 dólares, postagem e frete inclusos. Essa edição possui fragmentos e a gramática do Qenya das décadas de 1910-20, assim como informações sobre a escrita valmárica.

Algumas palavras interessantes do PE17

Estou em casa doente hoje e resolvi dar uma olhada na lista de palavras do PE17 lançada pelo Petri Tikka, que mencionei na última mensagem. Algumas delas me chamaram a atenção:

  • Alamen é uma nova despedida. Alámen é o imperativo dela, e tem o mesmo sentido de namárië.
  • Alla! é uma saudação do tipo “salve!” ou “bem-vindo!” O nosso velho conhecido Aiya! é de uso exclusivo quando estamos nos dirigindo “a grandes pessoas ou seres santos como os Valar, ou a Eärendil”.
  • Arta é o advérbio “etcetera”!
  • “Espada de duas mãos”, meus caros RPGistas, é atamaite macil.
  • Possivelmente o cognato do Sindarin Elrond em Quenya é Elerondo.
  • Hruo é “troll”.
  • “Jornada” é lenda? Influência do espanhol aqui?
  • Lindimaitar é “compositor (de músicas)”. Nyarnamaitar “escritor (de contos épicos)”. Ondomaitar “escultor (em pedra)”. Ontamo “maçon”.
  • Lúnaturco é o cognato em Quenya de Barad-dûr? Esta eu não esperava!
  • #Sam- “ter”. Pen- “não ter”. Interessante esse uso dos verbos.
  • Pia “pequeno” parece ser uma opção muito melhor para compostos do que pitya.

Palavras do PE17 e A Finlandecização (hein?) do Quenya

Petri Tikka enviou uma notificação à lista Elfling no último dia 31 avisando sobre duas novidades em seu site, Men Eldalambínen:

  • Lista de palavras do Parma Eldalamberon 17: Tikka já contribui para a lista de palavras do Helge Fauskanger há algum tempo, e essa é a primeira vez que ele lança uma parcela dessa lista separadamente. Ela contém (quase) todas as palavras contidas no PE17 sobre Quenya e é considerada “finalizada” pelo autor. Compositores, verifiquem as duas listas antes de escrever qualquer palavra!
  • A Finlandecização do Quenya: Foi um artigo escrito por Tikka para a conferência Omentielva Minya, e publicado no volume 1 do Arda Philology. O nome original é The Finnicization of Quenya, que espero ter traduzido corretamente. Petri é finlandês, e é uma das autoridades sobre o relacionamento entre o Quenya e a língua finlandesa. O artigo defende que o Quenya teria, mesmo em sua forma mais tardia, uma influência do finlandês mais forte do que aparenta a primeira vista. Em contraste, leia o artigo “São os elfos fino-úgricos?” do também finlandês Harri Perälä, que sugere que essa influência decresceu ao longo dos anos até ser quase nula no Quenya tardio.
Se vocês estavam preocupados em não ter o que ler sobre as línguas de Tolkien, acabaram de achar sarna para se coçar! 🙂

“Sistema Pronominal do Quenya” atualizado na Parma Tyelpelassiva

O estudioso alemão Thorsten Renk revisou seu artigo sobre o sistema pronominal do Quenya, que pode ser acessado clicando aqui, no site Parma Tyelpelassiva.

O artigo é excelente. Ele permite ao leitor uma visão cronológica dos sistemas pronominais elaborados no Early Quenya Grammar, no Parma Eldalamberon 17, e também no Vinyar Tengwar 49, analisando quais escolhas estilísticas de Tolkien mantiveram-se firmes e fortes ao longo da evolução externa do Quenya.

Não é meu desejo traduzir artigos do Thorsten, porque esta não é minha área, e também porque a Ardalambion Brasil já tem permissão para traduzí-los, tornando desnecessário o trabalho duplicado. Mas se eu tivesse de escolher um artigo para traduzir, seria esse.

As revisões do Thorsten vêm refletindo uma mudança no tom do seu site. Ele é escritor do famoso curso de Sindarin Pedin Edhellen (publicado aqui no Brasil pela Arte & Letra), e dos não-tão-famosos curso de Quenya Quetin i lambë eldaiva e o curso de Adûnaico Ni-bitha Adûnâyê, onde ele expõe as versões “normalizadas” dessas línguas, criadas especialmente para os compositores neo-élficos. Esses cursos estão disponíveis no site dele. Já os artigos dele visam a análise dos textos de Tolkien de forma cronológica, e sem sugestões de padronização. Isto não era assim há uns 2 anos atrás, quando os artigos dele eram quase apêndices ao curso, voltados apenas à composição neo-élfica.

Palavras em Quenya do PE17

O finlandês Petri Tikka compilou todas as palavras encontradas no Parma Eldalamberon 17 em seu website, com comentários sobre cada uma das formas:

Eu venho agrupando [a lista] para a lista de palavras Quenya-Inglês do Helge Fauskanger (Quettaparma Quenyallo) desde o final do ano passado. Eu agora cheguei à página 160 (30 páginas para o final), então decidi publicar o que eu fiz até agora. Eu terminarei a lista logo com alguma sorte, e a polirei para um estado melhor. Minha intenção foi incluir todas as palavras ainda não publicadas do Quenya no jornal, assim como os novos significados de velhas palavras. Em situações onde ambos sentido e forma de palavra são atestados em uma fonte anterior, eu lamentavelmente não fui consistente na inclusão das referências. Esta lista tem o intuito de ser uma referência não lapidada, e como um auxílio aos entusiastas do Neo-Quenya. Para contexto e análise detalhada, sempre leia a fonte original.

Leia aqui a lista do Petri!

Mais sobre o plural em ações físicas élficas

Em 17 de janeiro foi enviada por Ugo Truffelli uma mensagem refutando a teoria de Fredrik Ström (publicada aqui na Tolkien e o Élfico), que havia argumentado sobre a frase i karir quettar ómainen “aqueles que formam palavras com vozes”, dizendo que assim como o plural normal não era utilizado para as mãos, talvez não necessitasse ser utilizado para as vozes, pois os elfos têm só uma voz cada.

Truffelli cita a passagem em PE17:161:

A expressão idiomática do Quenya para descrever as partes do corpo de várias pessoas é utilizar o número próprio a cada indivíduo, o plural das partes existindo em pares (como mãos, olhos, orelhas, pés) é raramente requerido.

E explica:

Bem, tendo em vista estas palavras, eu acho difícil ver ómainen como uma utilização desta expressão idiomática, pois óma não é uma parte do corpo que existe mais do que uma vez em uma pessoa, nem cai na categoria de “partes existindo em pares”. E se o uso idiomático necessita o singular ou dual para suplantar o plural normal — de forma a especificar o “número próprio a cada indivíduo” — nós podemos facilmente supor que o uso não-idiomático deve requerer um plural. E de fato nós encontramos ómainen.

Utilizando também como exemplo a tradução das frases “todos os estudantes ergueram suas mãos” e “aqueles que formam palavras com vozes, Truffelli demonstra como estas frases ficariam em italiano, uma língua que Tolkien adorava (ele adorava italianos e a sua língua):

O italiano, embora concorde com o Quenya sobre partes do corpo como “mãos” (então o seu exemplo seria escrito como “tutti gli studenti alzarono la loro mano”, enquanto “le loro mani” significaria “ambas as mãos cada um”), permite ambos voce “voz” e voci “vozes” (“coloro Che formano parole con la voce/le voci”).

Utilização do plural em ações físicas élficas

Na mensagem 1039 da Lambengolmor, Christopher Gilson responde a algumas perguntas feitas por Fredrik Ström sobre alguns pontos dúbios no Parma Eldalamberon 17.

Fredrik nota a entrada MAG (relacionada às mãos) na página 161, que diz:

Portanto mánta “suas mão” [ou seja, “a mão deles”] seria usado = (eles ergueram) suas mãos (uma mão cada), mántat = (eles ergueram) suas mãos (cada um as suas duas), e mánte não pode ocorrer.

Ela parece ser muito semelhante, diz ele, ao Eldarin Hands, Fingers & Numerals no VT49:6:

Em casos como “eles ergueram suas mãos”, a mão era na sintaxe Eldarin sempre singular, se cada um (que não precisa ser expressado) erguer uma mão, e sempre dual se cada um erguesse ambas as mãos; o plural era impossível.

Tendo isto em vista, Fredrik indaga se Tolkien não estaria com um texto na sua frente enquanto escrevia o outro. Gilson vê como uma possibilidade, mas que não seria para Tolkien necessário fazê-lo.

Fredrik responde na mensagem 1041 que, realmente, não seria necessário, mas que é interessante notar a frase i karir quettar ómainen “aqueles que formam palavras com vozes” (XI:391), onde ómainen “com vozes” está no plural. Traçando um paralelo entre o Quenya e o suéco, Fredrik mostra como as seguintes frases teriam os substantivos “mão” e “voz” no singular em sua língua-mãe:

alla eleverna räckte upp handen “todos os estudantes ergueram suas mãoS
de som formar ord med rösten “aqueles que formam palavras com vozES

Ele nota que o plural de rösten, que é rösterna, soaria muito estranho neste contexto, como se cada uma daquelas pessoas tivesse mais de uma voz. [Nota nerd: Como se fossem os ithorianos de Guerra nas Estrelas.] É de se questionar por que em um caso esta regra é aplicada e em outro não, pois Tolkien comentou de maneira bem severa sobre as intrusões do tradutor suéco, o Dr. Ohlmarks, o que leva a crer que ele tinha um bom domínio dessa língua.

Possível correção ao VT49: raiz TEN

Na mensagem 1039 da Lambengolmor, Christopher Gilson responde a algumas perguntas feitas por Fredrik Ström sobre alguns pontos dúbios no Parma Eldalamberon 17.

A primeira é a questão da raiz vTEN, que é citada, mas não aparece no texto. Contudo, ela figura no VT49, p. 24. E citando essa entrada, Gilson sugere uma possível leitura diferente para a que está publicada. Aparentemente tenya não é marcada na publicação como sendo Quenya, embora esteja explícito no manuscrito; e a palavra dúbia no texto — specific “específico” — deveria talvez ser lida como speaker’s “daquele que fala”:

vTEN- = fim no sentido de destino final desejado. (met meramente = finalidade) tenna, ao ponto, até. † Q tenya, chegar (não no local daquele que fala[?]), pret. tenne.

PE17: Tempo perfeito do Quenya e pequenas frases

Com eficiência tipicamente alemã, Thorsten Renk vem atualizando seus artigos sobre o Quenya e o Sindarin a cada nova publicação.

Primeiramente, as várias pequenas frases espalhadas pelo PE17 em Quenya já estão compiladas no Índice de Frases em Quenya em seu site, Parma Tyelpelassiva. Lá vocês poderão encontrar diversas frases de uso comum, como “corra rápido”, “observe de perto/atentamente”, “A é melhor (mais brilhante) que B”, “Deus te abençoe”, etc. Todas criadas por Tolkien.

Outras pérolas mostram a tradução do nome Aragorn para Quenya: Arakorno (ou Aracorno, em conformidade com as convenções ortográficas do SdA). Isso vai gerar piadinhas… Por fim, koar al larmar “corpos e vestes” mostra um desenvolvimento interessante de ar “e” > al antes de l, o que faz sentido, sendo ambos fonemas laterais.

Conversei com o Thorsten sobre o assunto em um e-mail privado, perguntando se eu estava correto sobre esse desenvolvimento citado acima. Ele deu uma olhada no PE17 e me repassou o seguinte:

OK, na verdade é bem claro. Tolkien tentou diferentes conceitos, mas em vários al é a forma que “e” assume antes de l- e as antes de s- – a frase [no Índice] ilustra o primeiro uso.

Por fim, Thorsten escreveu um artigo completamente novo tratando do Tempo Perfeito do Quenya, tratando dos diversos exemplos novos. Alguns exemplos dignos de nota são orya- perf. orie, anta- perf. anie, que finalmente mostram que as formas do tempo perfeito de verbos que iniciam em vogal alongam-na, se for possível (i.e. se não estiverem em um ditongo, como #uie ou ortanie.

Vários verbos derivados como menta-, sirya-e melya- parecem perder -ta, -ya completamente: emenie, isirie e emelie respectivamente. Mas exceções existem, como nahta- perf. anahtie.

Para terminar, o verbo talt- “*escorregar” chamou muito minha atenção, pois é a primeira vez que fico sabendo de um verbo primário triconsonantal desta forma em uma fonte pós-SdA! (Lembrando que talta- aparece nas Etimologias na entrada TALÁT, como um verbo derivado; talta-taltala ing. “tumbling down” é o 30º verso do poema Markirya.)