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“Sistema Pronominal do Quenya” atualizado na Parma Tyelpelassiva

O estudioso alemão Thorsten Renk revisou seu artigo sobre o sistema pronominal do Quenya, que pode ser acessado clicando aqui, no site Parma Tyelpelassiva.

O artigo é excelente. Ele permite ao leitor uma visão cronológica dos sistemas pronominais elaborados no Early Quenya Grammar, no Parma Eldalamberon 17, e também no Vinyar Tengwar 49, analisando quais escolhas estilísticas de Tolkien mantiveram-se firmes e fortes ao longo da evolução externa do Quenya.

Não é meu desejo traduzir artigos do Thorsten, porque esta não é minha área, e também porque a Ardalambion Brasil já tem permissão para traduzí-los, tornando desnecessário o trabalho duplicado. Mas se eu tivesse de escolher um artigo para traduzir, seria esse.

As revisões do Thorsten vêm refletindo uma mudança no tom do seu site. Ele é escritor do famoso curso de Sindarin Pedin Edhellen (publicado aqui no Brasil pela Arte & Letra), e dos não-tão-famosos curso de Quenya Quetin i lambë eldaiva e o curso de Adûnaico Ni-bitha Adûnâyê, onde ele expõe as versões “normalizadas” dessas línguas, criadas especialmente para os compositores neo-élficos. Esses cursos estão disponíveis no site dele. Já os artigos dele visam a análise dos textos de Tolkien de forma cronológica, e sem sugestões de padronização. Isto não era assim há uns 2 anos atrás, quando os artigos dele eram quase apêndices ao curso, voltados apenas à composição neo-élfica.

Utilização do plural em ações físicas élficas

Na mensagem 1039 da Lambengolmor, Christopher Gilson responde a algumas perguntas feitas por Fredrik Ström sobre alguns pontos dúbios no Parma Eldalamberon 17.

Fredrik nota a entrada MAG (relacionada às mãos) na página 161, que diz:

Portanto mánta “suas mão” [ou seja, “a mão deles”] seria usado = (eles ergueram) suas mãos (uma mão cada), mántat = (eles ergueram) suas mãos (cada um as suas duas), e mánte não pode ocorrer.

Ela parece ser muito semelhante, diz ele, ao Eldarin Hands, Fingers & Numerals no VT49:6:

Em casos como “eles ergueram suas mãos”, a mão era na sintaxe Eldarin sempre singular, se cada um (que não precisa ser expressado) erguer uma mão, e sempre dual se cada um erguesse ambas as mãos; o plural era impossível.

Tendo isto em vista, Fredrik indaga se Tolkien não estaria com um texto na sua frente enquanto escrevia o outro. Gilson vê como uma possibilidade, mas que não seria para Tolkien necessário fazê-lo.

Fredrik responde na mensagem 1041 que, realmente, não seria necessário, mas que é interessante notar a frase i karir quettar ómainen “aqueles que formam palavras com vozes” (XI:391), onde ómainen “com vozes” está no plural. Traçando um paralelo entre o Quenya e o suéco, Fredrik mostra como as seguintes frases teriam os substantivos “mão” e “voz” no singular em sua língua-mãe:

alla eleverna räckte upp handen “todos os estudantes ergueram suas mãoS
de som formar ord med rösten “aqueles que formam palavras com vozES

Ele nota que o plural de rösten, que é rösterna, soaria muito estranho neste contexto, como se cada uma daquelas pessoas tivesse mais de uma voz. [Nota nerd: Como se fossem os ithorianos de Guerra nas Estrelas.] É de se questionar por que em um caso esta regra é aplicada e em outro não, pois Tolkien comentou de maneira bem severa sobre as intrusões do tradutor suéco, o Dr. Ohlmarks, o que leva a crer que ele tinha um bom domínio dessa língua.

Possível correção ao VT49: raiz TEN

Na mensagem 1039 da Lambengolmor, Christopher Gilson responde a algumas perguntas feitas por Fredrik Ström sobre alguns pontos dúbios no Parma Eldalamberon 17.

A primeira é a questão da raiz vTEN, que é citada, mas não aparece no texto. Contudo, ela figura no VT49, p. 24. E citando essa entrada, Gilson sugere uma possível leitura diferente para a que está publicada. Aparentemente tenya não é marcada na publicação como sendo Quenya, embora esteja explícito no manuscrito; e a palavra dúbia no texto — specific “específico” — deveria talvez ser lida como speaker’s “daquele que fala”:

vTEN- = fim no sentido de destino final desejado. (met meramente = finalidade) tenna, ao ponto, até. † Q tenya, chegar (não no local daquele que fala[?]), pret. tenne.

Melhores notícias de 2007

O site TheOneRing.net escreveu no dia 31 de dezembro sobre as melhores notícias de Tolkien em 2007. À lista das notícias:

  1. Os Filhos de Húrin, publicado em 17 de abril;
  2. O músical de O Senhor dos Anéis reaberto em Londres, dia 19 de junho;
  3. 70º aniversário de O Hobbit, publicado em 21 de setembro de 1937;
  4. A História d’O Hobbit, publicada em 21 de setembro;
  5. The Lord of the Rings: The Return of the King (The Complete Recordings), lançado em 20 de novembro;
  6. Fãs podem patrocinar a construção de uma estátua de um ent a ser construída em Moseley Village, Reino Unido, no dia 1º de outubro;
  7. Peter Jackson e a New Line Cinema juntam-se à MGM para produzir o filme de “O Hobbit”, em 18 de dezembro.

Mas eu tenho certeza de que todos os leitores deste blog ficaram mais felizes com a publicação do Vinyar Tengwar 49 e do Parma Eldalamberon 17, que nos trouxeram informações valiosíssimas sobre as idéias de Tolkien para o Quenya e o Sindarin na época em que escreveu O Senhor dos Anéis e além. Descobrimos tabelas de pronomes, o pretérito do Sindarin, o verbo ser/estar do Quenya… Enfim, muito do que queríamos há anos!

Que 2008 seja também um ano de muitas descobertas, muitas discussões e muito conhecimento fluíndo para todos os fãs das línguas élficas. Que as suas curiosidades sejam saciadas, amigos!

Aurinko e Aurë, Finlandês e Q(u)enya

O estudioso finlandês Petri Tikka escreveu para a lista Elfling a segunte mensagem:

O Q(u)enya aure “luz do sol, brilho do sol, luz dourada, calor” (PE12:33) com os seus significados tardios (como “(luz do) dia”, RC:727) é similar, de uma maneira suspeita, ao finlandês aurinko “o sol”. Eu apenas percebi isto enquanto lia o comentário sobre esta palavra em VT49:45. É estranho eu não ter encontrado alguém comentando este óbvio empréstimo antes de mim. A palavra finlandesa aurinko possivelmente descende de auer “nevoeiro”. E uma forma diminutiva do Quenya aure seria *aurinke

Boas fontes para ler sobre a comparação entre o Quenya e o finlandês são os artigos “Similarities between real languages and Tolkien’s Eldarin” no site Sindanórië e “Are High Elves Finno-Ugric?” no site do também finlandês Harri Perälä. Este também disponibilizou links para ótimos artigos sobre o assunto, que você pode acessar clicando aqui.

Petri Tikka escreveu mais tarde nesse dia que Carl Hostetter apontou para ele um comentário do Christopher Gilson sobre o assunto em VT33:23 (em janeiro de 1994!). Travis Henry apontou que o latim aurum “ouro”, do i.-e. *aues “brilhar, ouro” é uma outra fonte possível, já que o latim também foi uma fonte de inspiração para o Quenya.

Revisão dos resumos do Curso de Quenya (10/08/2007)

Resolvi aproveitar o tempo livre que tive hoje à tarde para fazer uma série de revisões e observações necessárias aos Resumos do Curso de Quenya 1-10, haja vista a grande quantidade de informações que o VT49 nos trouxe.

Já na lição 2 deixei uma nota sobre o plural dual. Na lição 4, escrevi sobre nar vs. nár, dando preferência à última. Nos artigos onde havia tabelas com formas verbais, adicionei mais uma coluna para as formas duais, refletindo a evidência siluvat “brilharão”.

O resumo mais afetado foi o 10: ambas as desinências pronominais da 3ª pessoa do plural, como descobrimos, são diferentes no paradigma de c. 1968; enquanto isso, verya- acaba com a nossa teoria do pretérito de v. intransitivos em -ya.

Vinyar Tengwar 49: “Usual”, “Lugar de Descanso”, mais sobre “antes” vs. “depois”

Na lista Lambengolmor, o membro Fredrik Ström, da Suécia, discute na mensagem 1011 uma forma interessante que aparece em VT49:22: o adj. senya “usual”.

Ele nota que o editor menciona sen- “deixar livre, libertar, deixar ir” como uma possível palavra relacionada, mas Fredrik imagina uma outra conexão: senda “descansando, em paz”, da raiz SED. Se houver tal conexão, senya poderia ter se desenvolvido nessa raiz por ser “o estado de algo que não é perturbado: o estado ao qual algo retorna quando deixado em paz”, diz Fredrik. Em uma nota editorial no e-mail, Patrick Wynne — o autor do artigo no VT49 — diz que um dos membros do painel de revisão mencionou tal conexão, e que ele sente que deveria ter mencionado a possibilidade de senya vir de SED.

Fredrik tenta fazer uma conexão de senya com sennui na King’s Letter com a qual Patrick não concorda, mas no meio do raciocínio ele nota em A Reader’s Companion p. 523 o nome Sennas Iaur “Velha Casa de Hóspedes”, que pode vir da raiz SED. Fredrik arrisca uma reconstrução em Quenya *sendassë, com o sentido de “lugar-de-descanso” (ing. resting-place) que Patrick achou “bem provável”.

Fredrik menciona a questão do “antes” vs. “depois” em élfico. Notando que epe é “antes” (espacialmente) ou “depois” (temporalmente) como apresentado em VT49:12, ele lembra de apa que aparece “antes, no tempo” e “após, (depois de)” em VT44:36. No ensaio “Quendi and Eldar (XI:387), há o Q. apanónar ‘pós-nascidos’ perto do S. aphad- ‘seguir’ ap-pata ‘andar atrás, em uma trilha ou caminho’.”

A parte interessante? Se a semântica for a mesma em Quenya e Sindarin, e também apa/epe sejam apenas variantes de uma raiz, em um momento “seguir” significaria “estar atrás”, enquanto em outro estágio do desenvolvimento externo significaria “estar à frente”! Isso é explicado por Patrick: para que você possa seguir alguém, você precisa estar fisicamente atrás de alguém, enquanto temporalmente à frente desse alguém.

A maneira que a mente de Tolkien funcionava era muito interessante. (Sem sarcasmo.)

Vinyar Tengwar 49: Verbo “casar”

Há dois dias atrás mencionei a frase volitiva nai elen atta siluvat aurenna veryanwesto. Nessa frase aparece um verbo intransitivo verya- “casar”. Segundo Fauskanger, “aquele com quem você se casa aparece no caso alativo, não como um objeto direto: ver o inglês ‘get married TO somebody'”.

Outra novidade interessante é que o pretérito deste verbo é veryanë, o que contraria a teoria de Fauskanger no Curso de Quenya, como ele mesmo admite. Ele lista os exemplos anteriores de verbos em -ya com formas atestadas no pretérito:

  • farya- > farnë;
  • lelya- > lendë;
  • ulya- > ulyanë quando transitivo; ullë quando intransitivo.

Portanto, a página 45 nos trás uma boa e uma má notícia: a boa é que temos um verbo “casar”; a má é que o nosso sistema estipulado para os pretéritos de verbos em -ya demonstra deficiências.

Minha opinião: continuem utilizando o sistema do Curso de Quenya, exceto em verya-.

Vinyar Tengwar 49: Substantivo “vida”

No jornal Vinyar Tengwar 42, em uma discussão sobre os nomes dos rios e faróis de Gondor, Tolkien nos dá uma expressão idiomática em Quenya: kuivie-lankasse (no Q. do SdA seria cuivië-lancassë), lit. “na beirada da vida” (p. 8).

O substantivo cuivië, desde então, vem sendo utilizado para “vida” nas composições em Neo-Quenya desde então. Mas essa palavra também é utilizada para o subst. “despertar” (no sentido de “acordar do sono”), como visto em Cuiviénen “Águas do Despertar”.

Em uma das frases volitivas trazidas pelo VT49, contudo, Tolkien utiliza koivierya, lit. “vida dele/dela” (p. 41), de onde podemos facilmente deduzir coivië “vida”. A escolha de Helge Fauskanger, da Ardalambion, é incluir a partir de agora em suas listas de palavras coivië para “vida” e cuivië apenas para “despertar”. É possível que tal palavra esteja também numa próxima revisão do Curso de Quenya (até por ser um novo exemplo da desinência pronominal -rya).

Vinyar Tengwar 49: Numerais e plural dual nos verbos

Na página 45 do VT49, Tolkien explica o uso dos numerais no Quenya.

Todos os numerais (exceto er “um”) aparecem após o substantivo. Também quando o substantivo vem antes de atta “dois”, ele se mantém no singular. Isso nos leva ao seguinte sistema, utilizando elen “estrela” como exemplo:

  • Er elen. “Uma estrela.” (VT44:17 contraria isso com Eru er “um Deus”)
  • Elen atta. “Duas estrelas.”
  • Eleni neldë. “Três estrelas.”
  • Eleni canta. “Quatro estrelas.”

Outra coisa interessante é que essa explicação acompanha uma das cinco frases volitivas apresentadas no VT49, p. 44: Nai elen atta siluvat aurenna veryanwesto. “Que duas estrelas brilhem no dia de seu casamento.” Note que o verbo sil- está no futuro e também está no plural dual! É a primeira vez que temos um exemplo de verbo com plural dual.

Sobre esse assunto, Helge Fauskanger da Ardalambion diz que “se esse substantivo é o sujeito de um verbo, o verbo recebe a desinência dual -t, portanto elen atta siluvat ‘duas estrelas brilharão'”. Por enquanto eu não possuo acesso direto a uma cópia do VT49, o que limita minha capacidade de checar essa informação, mas eu não seria corajoso o suficiente para dizer que em todas as situações envolvendo o numeral atta o verbo é posto no plural dual.

Para mim essa frase deixa explícito que esse par de estrelas tem um significado muito importante e, portanto, o verbo deveria deixar isso claro através da desinência -t, mas eu não descartaria a possibilidade de que elen atta siluvar é possível. O que impede do dia estar particularmente nublado e apenas duas estrelas quaisquer serem as únicas visíveis no céu? 🙂