Arquivo da tag: David Salo

Grupo da Elfling trancado, fórum substituto criado

No dia 11 de setembro, a lista de discussão Elfling foi fechada pelo seu criador, David Salo, devido a “questões técnicas” — o que significa, basicamente, que ele não gostou do novo layout da Yahoo! Grupos. Eu não reportei o assunto porque não sabia se seria algo temporário ou não, mas parece que a transição para um fórum é permanente, e a nova Elfling pode ser encontrada em http://elfling.midgardsmal.com. Para participar, é necessário se registrar e cada mensagem nova deve aguardar aprovação da moderação.

Em quase dois meses de fórum, nenhuma discussão nova foi criada, mesmo com o lançamento do Parma Eldalamberon 20. Eu sempre preferi fóruns a listas, mas por experiência própria eu sei que quem participa de um não costuma participar de outro. O tempo vai dizer se a transição foi uma boa ideia ou não.

Midgardsmál

khuzdul-axe-dwalin
And my axe!
Quanto mais estudamos as línguas élficas, mais fácil é de ficar impressionado com o trabalho de David Salo, o criador dos diálogos e letras de músicas nas línguas tolkienianas dos filmes da série O Senhor dos Anéis e O Hobbit. Para esta trilogia, Salo teve de criar duas línguas inteiras: a Fala Negra de Mordor, falada pelos orcs; e o Khuzdul, falada pelos anões. Para explicar esse processo criativo, ele lançou em fevereiro o site Midgardsmal, um blog onde ele demonstra a sua abordagem e tira dúvidas dos leitores (você também pode fazer perguntas). Eu não consegui dormir ontem antes de ler tudo que ele tinha a dizer até o momento.

Muitas pessoas não sabem, mas as línguas inventadas por Tolkien sofrem de um problema crônico de falta de vocabulário. Mesmo a língua mais elaborada por Tolkien, o Quenya, tem aproximadamente 4.500 palavras reconhecidas, e nem todas atestadas. Didier Willis, criador do Dicionário Hiswelóke de Sindarin, fez uma série de gráficos interessantes sobre o vocabulário conhecido dessa língua, que é de longe a mais utilizada em diálogos nos filmes: das 2.646 palavras conhecidas no Sindarin, 1358 foram criadas por Tolkien antes de ele sequer começar a escrever O Senhor dos Anéis e nunca mais foram atestadas em lugar algum. De todas essas 2.646 palavras, apenas 245 delas são verbos!

O vocabulário é tão deficiente que Helge Fauskanger, o criador do Curso de Quenya, perguntou na lista Elfling no último dia 30 de dezembro como os membros da lista escreveriam “por que” em Sindarin, pois até hoje não sabemos!

Isso faz o trabalho de Salo ainda mais impressionante, pois o Khuzdul possui menos que 100 palavras atestadas; a Fala Negra e o órquico combinados possuem meras 31, se contarmos desinências como “palavras”. É fascinante que ele conseguiu dar a sensação de uma língua tolkieniana verdadeira, tendo um material tão limitado para trabalhar em cima.

Eu sugiro que todos leiam e acompanhem Midgardsmál. Neste momento, Salo está se focando em explicar sua abordagem com o Khuzdul, mas ao longo dos próximos meses ele pode falar de outras línguas também. Vocês não vão querer perder isso.

Vocalização de oclusivas implosivas em Noldorin e Sindarin

Bertrand Bellet, em 3 de outubro enviou para a lista Lambengolmor um excelente estudo que é muito útil àqueles que compõem em Sindarin. Para simplificar, estamos falando exatamente dos encontros Vks, Vkt, Vps, Vpt, Vgl, Vgm, Vgn, Vgr e Vgt (sendo V “vogal”) no Eldarin Comum, e o que acontece no seu desenvolvimento que difere entre o Noldorin das “Etimologias” e o Sindarin d’O Senhor dos Anéis.

Acontece então que consoantes oclusivas, como k e p acima, “geralmente parecem ser sonorizadas [i.e. tornam-se g e b] em posições implosivas antes de outras oclusivas ou s, formando ditongos com a vogal precedente – provavelmente via um estágio fricativo intermediário, como a fonética geral e paralelos com línguas do mundo real sugerem”, disse Bellet no seu artigo. “Isto também se aplica a g antes de líquidas [l e r] e nasais [m, n e ñ] – provavelmente primeiro houve mutação suave para ? e então sonorizado.” ?, para quem não sabe, é o som do j de “jeito”, que não existe em Quenya e Sindarin.

O primeiro ponto indicado por Bellet com relação às diferenças entre o N. e o S. pode ser encontrado no Eldarin Comum okt, ukt, onde em N. encontramos auth, uth respectivamente, mas em S. há oeth, uith. Já as oclusivas após e tornam-se ei (> ai quando na última sílaba em S.) e depois de a traz ae.

O segundo ponto é o desenvolvimento de ps e ks para “ditongo + s” em Noldorin, mas f e ch em Sindarin, segundo PE17:134, através das evoluções ps > pph >f e ks > kkh > ch.

Teoricamente, seguindo essas informações, o Eldarin Comum *okta “guerra”, que gerou o Q ohta, se desenvolveria para *oeth em Sindarin, embora auth seja atestado em Noldorin. Da mesma forma, *lokse “cabelo” aparece como o N lhaws em V:370 (corrigido em VT45:29), mas segundo estas regras desenvolveria-se para o S *loch.

A partícula #caraxë (ou seja, carakse) encontrada no nome Helcaraxë, é encontrada como #caraes em V:362, enquanto carach é atestado como Sindarin n’O Silmarillion e em The Lord of the Rings: A Reader’s Companion. Deve ser dado crédito ao David Salo por perceber a evolução ks > kkh > ch antes de todos.

Resumo de “Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years”

Novamente o trio Douglas A. Anderson, Michael D. C. Drout e Verlyn Flieger trazem o excelente Tolkien Studies, um compêndio de com diversos ensaios acadêmicos sobre a vida e obra de Tolkien. Em seu volume 4, lançado recentemente, temos um artigo que deve interessar a todos nós: Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years, escrito por Carl F. Hostetter, contando a história da lingüística tolkieniana de 1954 até 2007. Continue lendo Resumo de “Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years”

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 3)

Como falei em uma mensagem anterior, antes de ser útil, uma língua criada por Tolkien deveria ser bela, e Tolkien não as media por padrões que não fossem estéticos, para o bem ou para o mal. O Professor menciona em uma carta que certa vez recebera de presente um cálice de aço com as inscrições do Anel. “É claro que nunca bebi nele, mas o uso como cinzeiro.” (Cartas: 399)

Digamos que você começou agora a tentar escrever em élfico. Quão importante esta discussão pode ser para você?

  1. Ela retira da sua cabeça um elemento que só gera frustração: o mito de que algum dia existiu, em escrito ou na cabeça de Tolkien uma gramática definitiva das línguas élficas. Eu já criei traduções para o élfico horrendas, por acreditar que isto realmente existia;
  2. Ela mostra que, mesmo assim, é bom que este mito seja nutrido no início, para que você sinta-se a vontade com um cenário menos volátil e compreenda as funções gerais das línguas élficas;
  3. Ela demonstra que o limite não é o que Tolkien escreveu, mas sim o que você pode fazer com as idéias que Tolkien disponibilizou;
  4. Que ser criativo é uma prática apoiada pelos maiores entendedores das línguas tolkienianas, embora eles sejam um tanto exigentes. 😉

Desde que comecei a escrever este acompanhamento, mais algumas mensagens relacionadas foram enviadas à Elfling e é provável que muitas outras sejam enviadas. Este acompanhamento foi realizado apenas para a ramificação iniciada por Bill Welden na mensagem 33732. Até agora foram criadas outras três ramificações, por Kirsten (33724), por David Salo (33726) e por Thorsten Renk (33770), todas com informações interessantes àqueles que só estão interessados em saber sobre os filmes ou por uma análise mais profunda do Neo-Sindarin dos filmes.

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 1)

No dia 21 de dezembro, a mensagem 33718 da lista Elfling iniciou uma das mais extensas e divertidas discussões sobre o uso pós-Tolkien das suas línguas, rotulados de Neo-Quenya e Neo-Sindarin. Até hoje (6/1/2007) foram escritas 30 mensagens discutindo o tópico, 25 na lista Elfling, 5 na lista Elfling-D (esta última foi criada para aqueles que foram banidos ou censurados na Elfling). Os participantes incluem nomes ilustres, como David Salo (criador dos diálogos e das letras das músicas em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis), Helge Fauskanger (criador do Curso de Quenya), Thorsten Renk (criador do Curso de Sindarin), Bill Welden, Carl Hostetter e Patrick Wynne (membros da Elvish Linguistic Fellowship, os dois últimos via Elfling-D).

A mensagem original é de “Kirsten”, reproduzida abaixo:

Eu sei que algumas pessoas já trabalharam duro para descobrir o que significam os diálogos e a trilha sonora¹ em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis, mas já houve alguma discussão da qualidade das traduções para o élfico usadas nos filmes? Elas são de maneira geral corretas ou alguém já observou algum erro óbvio? Eu não sei sobre vocês, mas eu estou muito interessada nesse aspecto das traduções. Também, o que pode-se dizer das pronúncias? Eu realmente gostaria de ler uma discussão desses assuntos por um grupo de pessoas que conhecem bem as línguas de Tolkien.

Kirsten

Na resposta de Halrawrandir na mensagem 33720 o autor diz que “é necessário concordar” que as traduções foram as melhores possíveis. Contudo, Matthew Dinse na mensagem 33721 disse discordar, e listou “alguns problemas” do Sindarin nos filmes:

  • Uso de aen para voz passiva quando não sabemos qual é sua real função com certeza;
  • Uso de go como uma palavra separada e não um prefixo;
  • Formação do pretérito do Sindarin;
  • Uso de *-ch para “você”;
  • Gerúndios no plural;
  • Conjugação do verbo ista-;
  • Uso de *ae para “se”;
  • Uso de **hanna- como o verbo “agradecer” (ao invés de *anna-, segundo Carl Hostetter);
  • Uso de **ess para “nome”, embora eneth não houvesse sido publicado na época.

Desde essa mensagem de Matthew Dinse 26 outras foram escritas no tópico, criando três ramos diferentes de discussão.

Embora todas as mensagens possuam um valor imenso, manterei o foco apenas no terceiro ramo, criado por Bill Welden na mensagem 33732. O resumo será publicado na próxima mensagem, que você pode acessar por este link..

Fiquem ligados!


¹ Links adicionados pelo tradutor, por motivos de brevidade.