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O fim de ano dos lingüistas tolkienianos

Há algumas razões pelas quais as atualizações aqui estão lentas. Uma delas é que o nosso fim de ano traz as férias, mas o fim de ano no Hemisfério Norte não. Sendo que os produtores de estudos e publicações lingüísticas tolkienianas são daquela parte do globo, o volume de novidades é pequeno.

Contudo, alguns donos de sites costumam criar “presentes de natal”. Se algo sair, eu lhes deixarei informados. Por enquanto, espero que se contentem com o lançamento nacional de As Aventuras de Tom Bombadil.

Curso sobre J.R.R. Tolkien indo muito bem, obrigado!

O Prof. Michael Drout, presidente do departamento de inglês da Wheaton College, em Norton, Massachussets (e editor do anuário Tolkien Studies), escreveu em seu blog um número interessante sobre os cursos sobre literatura medieval em sua universidade.

Embora ele não tivesse a intenção de fazer o post sobre Tolkien em específico, ele diz que o curso sobre o autor, que é um dos cursos oficiais que ele dá, tem 62 inscritos neste outono (lá já é outono, só para avisar). O Prof. Drout nota que, em média, os cursos de Wheaton tem 19 inscritos.

A quem interesse, o seu curso sobre Chaucer tem 35 inscritos para o outono, e o de literatura medieval na primavera de 2009 tem trinta e sete.

Qual a confiança que devemos ter nos cursos?

Eu recebi a seguinte pergunta do usuário Fëaléron do Fórum Valinor (verbatim):

Olá, Rodrigo.
Nas minhas andanças pelo fórum não pude deixar de notar sua forte atuação no que diz respeito aos idiomas élficos, o que me levou a acessar Tolkien e o Élfico.
Lá vi um artigo (Nova versão do Quetin i Lambe Eldaiva no forno). Fiquei um pouco assustado pois há pouco adquiri um exemplar do Curso de Quenya, einiciei meus estudos. O curso em desenvolvimento por Thorsten Renk invalida o de Helge Fauskanger? Ou este está ultrapassado? Gostaria de saber pois não tem sentido eu estudar regras que não estariam mais em vigência.

Desculpe-me incomodar, mas é que o meu maior interesse nesse fórum é explorar os idiomas tolkienianos.

Obrigado pela atenção.

Regras?!

Pergunta: “Qual o sentido em estudar regras que não estariam mais em vigência?”
Resposta:
Quais regras?! Não há regras!”

Neste momento eu gostaria de remeter o leitor ao post Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 2) onde citei Bill Welden:

Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. Sou eu que preciso dizer isto? Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. […] [E]le tinha permissão para modificá-la, e isto é aparente em seu trabalho.

Então o que é um Curso de Quenya?

Do ponto de vista de um acadêmico, é uma introdução ao Quenya. Você pode aprender de forma muito mais rápida e simples coisas como o aoristo, os casos e outras funções gramaticais típicas do Quenya, para depois seguir com seus estudos através de fontes primárias (textos originais de Tolkien).

Do ponto de vista de um compositor, é um conjunto de regras estipuladas por um fã sobre o qual você pode criar composições em Neo-Quenya mais compreensíveis a outros entusiastas. O fã escolhe as funções gramaticais e o vocabulário padrão através de regras de precedência ou de forma totalmente arbitrária, e quem estiver disposto a utilizar aquele Neo-Quenya está livre para fazê-lo.

Uma resposta direta a todas as perguntas

Pergunta: O Curso do Thorsten invalida o do Helge?
Resposta: Não. É uma questão de escolha.

Pergunta: O Curso do Helge está ultrapassado?
Resposta: Para os padrões delimitados pelo Helge, ele está sim. O tradutor brasileiro Gabriel Brum está esperando o último quarto da nova versão do curso, que ainda está sendo escrita pelo Helge, para que uma segunda edição do livro impresso seja feita.

Pergunta: Há sentido em estudar o Curso do Helge, mesmo que o autor o dê por ultrapassado?
Resposta: Enquanto uma versão oficial nova de algum curso não está disponível com atualizações completas, sim, faz muito sentido. Poucos conceitos são modificados de versão para versão (eu mesmo já passei por uma ou duas versões do CdQ durante meus estudos).

Mas eu quero fazer perfeito!

Meus caros, lembrem que perfeição não existe, nem no que deveria ser perfeito. Eu já vi gente apontando irregularidades em verbos do esperanto! Para uma língua que deveria ser perfeitamente regular, irregularidades são aberrações. E no caso das línguas élficas, o próprio Professor imbutiu irregularidades aleatórias: ele não queria que fossem perfeitas! Quando começamos a dizer “ok, agora eu sei como fazer um pretérito”, vem um novo dado em uma nova publicação, ou vários dados antigos conflitantes, que destróem nossa teoria anterior.

Lembrem também que Tolkien trabalhou em cima de suas línguas desde jovem, e o Quenya em si só começou a ser criado quando o Professor tinha aproximadamente 20 anos. Foram 60 anos de aperfeiçoamentos só nesta língua. Não seja afobado, meu caro visitante, em querer compreender tudo o que é necessário em 6 meses ou algo do tipo.

Ademais, daqui há 1 ano ou 2 teremos mais uma publicação que trará mais uma formação inédita com uma função gramatical única que, se considerarmos o padrão de “o exemplo mais tardio é o melhor”, acabará jogando mais um pedaço do nosso neo-élfico atual no lixo. E você vai ter de aprender novamente essa parcela do seu neo-élfico. E a sua segunda edição do Curso de Quenya vai se tornar ultrapassada! É possível postergar o aprendizado do Quenya em 20 anos e ainda assim ter de lidar com a obsolescência dos dados. Por que deixar para mais tarde então?

Tolkien e o Élfico de endereço novo!

Estou escrevendo para anunciar o que alguns de vocês já devem ter percebido: o Tolkien e o Élfico mudou de casa e, por conseqüência, de endereço. Nosso novo endereço é:

http://elfico.com.br!

Avisamos a todos os visitantes que estão com o site nos favoritos que precisarão atualizá-los tão rápido quanto possível. O antigo endereço enviará para este apenas até o dia 24 de janeiro, quando o serviço da Neosys será encerrado definitivamente. Você não quer perder meu endereço, quer? 🙂

Caso você encontre algum problema no site, como um link quebrado ou algo do tipo, entre em contato comigo através do formulário de contato.

É… Cá estamos novamente

Aurë utúlië? Espero que sim. Infelizmente ficamos um mês inteiro fora do ar, mas como até mesmo site brasileiro nunca desiste, a Tolkien e o Élfico está aqui novamente. Ironicamente ressuscitada no dia de Finados.

Neste momento estou terminando um trabalho para a faculdade. Mas neste fim de semana (ou hoje) eu trarei as notícias do que aconteceu em outubro no mundo tolkieniano.

Brancura Élfica

Estava eu aqui a traduzir alguns nomes em Quenya e Sindarin que me pediram há muito tempo. (Desculpe!) Um deles é “Bianca”, que como aprendi vem do francês Blanche “branco(a)”.

Para quem não sabe, os elfos adoram a cor branca. Adoram tanto que inventaram um monte de palavras para diversos tipos de branco. Listo abaixo as palavras para a cor branca em Quenya e Sindarin, excluindo ainda as que aparecem em obras pré-SdA. Primeiro em Quenya:

  • ninquë “frio, pálido”. Se refere, na verdade, mais à temperatura do que à brancura — S:456, mas cf. XI:417.
  • fána “branco como as nuvens”. Aparece em MC:221, no famoso poema Markirya. Utilizado para referir-se à brancura das nuvens — cf. fanyar “nuvens” em Namárië. O termo é relacionado com os fanar, os corpos angelicais que os Valar e Maiar utilizavam para serem visíveis aos Filhos de Eru.
  • adj. lossë “branco como a neve” (há um substantivo lossë “neve” também). Discutido em RGEO:69, na análise do poema Namárië por Tolkien.

Agora em Sindarin:

  • nim é um cognato do Q. ninquë (S:456)
  • fain é o cognato do Q. fána. Nas Etimologias é encontrado como fein, mas ei do Noldorin nesta fonte geralmente leva a ai no Sindarin tardio. Como um adicional, o nome original das Ered Nimrais lit. “montanhas dos chifres brancos era “Montanhas de Eredfain” (VIII:288), onde ered + fain “montanhas + brancas”.
  • glos(s) é o cognato do adj. do Q. lossë (RGEO:70)
  • *glân “branco brilhante, luminoso, claro, resplandecente”. Atestado sob mutação suave em Curunír ‘Lân “Saruman, o Branco” (CI:428), sem indicativos do tipo de brancura; contudo, o dicionário Hiswelóke faz um bom trabalho traçando paralelos com a raiz GALÁN “brilhante” das Etimologias (VT45:13), o gnômico glan (PE11:39) “‘claro, puro’, de ‘brilhante’ originalmente” diz o autor Didier Willis e o próprio galês glan (que possui vogal longa, embora as convenções ortográficas do galês não mostre). Talvez o cognato em Q. seja *alan, que é listado em VT45:13 como “daytime” (ou seja, o tempo durante um dia em que o sol aparece).

A parte mais engraçada (para quem não está traduzindo, claro) é que a tradução mais “neutra” de branco é, em minha opinião, *glân! Mas eu sou um cara democrático, então vou fazer uma votação: como você acha que eu deveria traduzir “Bianca”?

Resumo de “Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years”

Novamente o trio Douglas A. Anderson, Michael D. C. Drout e Verlyn Flieger trazem o excelente Tolkien Studies, um compêndio de com diversos ensaios acadêmicos sobre a vida e obra de Tolkien. Em seu volume 4, lançado recentemente, temos um artigo que deve interessar a todos nós: Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years, escrito por Carl F. Hostetter, contando a história da lingüística tolkieniana de 1954 até 2007. Continue lendo Resumo de “Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years”

Relatório: Dissertação de Mestrado “Jovens Leitores do SdA” na UFRGS

Assisti nesta segunda-feira passada (11/06) à defesa da dissertação de mestrado da Larissa Camacho Carvalho na Faculdade de Educação da UFRGS. A orientadora da Larissa é a Dra. Maria Stephanou, que me pareceu extremamente simpática ao projeto (além de ela mesma ser muito simpática). Na banca examinadora estavam o Dr. Nilton Bueno Fischer (PPGEDU/UFRGS), Dra. Elisabeth Garbin (PPGEDU/UFRGS), Dra. Diana Maria Marchi (FAPA) e a Dra. Carlota Boto (USP).

Sem me alongar muito, aqui vão algumas questões abordadas pela banca:

  • O impacto das comunidades virtuais no ensino e nos hábitos sociais dos jovens: Neste aspecto, o trabalho da Larissa foi considerado um bom avanço em direção à uma compreensão melhor do assunto pelos profissionais da educação.
  • Tolkien como meio, não como princípio ou fim: O Dr. Fischer mencionou o uso de Tolkien como um meio, até onde lembre de “conectar os professores aos alunos”. Não discordo que, realmente, a possibilidade é de que haja sucesso utilizando essa aproximação da questão. Contudo, é minha opinião como uma pessoa que vem estudando Tolkien por 5 anos, que a melhor maneira de utilizar Tolkien para educar (o que engloba mais do que apenas “na educação“) é estudar Tolkien por Tolkien, e não utilizá-lo como uma fonte de explicação. As obras de Tolkien dependem do mundo real (ou “primário”, como ele próprio dizia), o que abre possibilidades de ensinar coisas concretas enquanto se ensina Tolkien, enquanto o caminho reverso me parece não dar tal consistência.
  • “O que é ‘juventude’?”: A inclusão de pessoas de 29 anos como jovens parecia, aos membros da banca, difícil de aceitar. A Larissa argumentou em sua defesa que suas medidas foram principalmente o estilo de vida dos entrevistados, que praticam atividades (como jogar RPG) que são compatíveis com o que se acredita ser “atividades de jovens”. Outra medida foi que, em alguns casos, os jovens conheceram há muito tempo atrás os livros, e na época eram realmente de “idade jovem”.

Há uma curiosidade sobre essa dissertação que talvez irá agradar aos leitores de Tolkien: A Larissa transformou a dissertação praticamente em uma narrativa, cheia de detalhes e minúcias, do jeito que o Professor escreveria um livro (em sua devida proporção, claro). De fato, todos os membros consideraram uma leitura atraente e, em alguns pontos, sentiram-se decepcionados de não verem mais detalhes ainda! Uma excelente jogada!

Você pode fazer o download da dissertação aqui, da maneira que foi entregue no dia (PDF). Ela recebeu nota máxima e será publicada pela UFRGS.