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Vinyar Tengwar 49: Substantivo “vida”

No jornal Vinyar Tengwar 42, em uma discussão sobre os nomes dos rios e faróis de Gondor, Tolkien nos dá uma expressão idiomática em Quenya: kuivie-lankasse (no Q. do SdA seria cuivië-lancassë), lit. “na beirada da vida” (p. 8).

O substantivo cuivië, desde então, vem sendo utilizado para “vida” nas composições em Neo-Quenya desde então. Mas essa palavra também é utilizada para o subst. “despertar” (no sentido de “acordar do sono”), como visto em Cuiviénen “Águas do Despertar”.

Em uma das frases volitivas trazidas pelo VT49, contudo, Tolkien utiliza koivierya, lit. “vida dele/dela” (p. 41), de onde podemos facilmente deduzir coivië “vida”. A escolha de Helge Fauskanger, da Ardalambion, é incluir a partir de agora em suas listas de palavras coivië para “vida” e cuivië apenas para “despertar”. É possível que tal palavra esteja também numa próxima revisão do Curso de Quenya (até por ser um novo exemplo da desinência pronominal -rya).

Quenya na Wikimedia Incubator

Já há algum tempo a Wikimedia Incubator, um dos sites da rede que faz parte a Wikipédia, vem fazendo um teste de tradução da Wikipédia para o Quenya. Hoje, enquanto instalava uma wiki para uso pessoal, utilizei o artigo sobre Quenya da Wikipédia portuguesa como template para alguns ajustes.

Então comecei a fazer algumas comparações com o artigo em inglês que, claro, é muito superior, mas o que me chamou a atenção foi a chamada para a Wikimedia Incubator no final. Resolvi dar uma olhada.

Que tristeza. Este é exatamente o conteúdo que temos agora no artigo sobre Quenya:

Quenya ná lambe Eldaiva.

Eu conheço vários leitores deste blog que conseguiriam fazer melhor do que isso. Vamos começar com algo bem básico:

Quenya, hya Quendya, né lambë quetina ló Vanyar ar Noldor Amanessë. Anes la quetina ló Teleri (i quentë Telerin), ar Sindar (i quentë Sindarin). Hecelmaressë Quenya né vaquetina lambë sanyenen Elwë Singollo, an Aran Sindaron la merne lasta i lambë nahtari lieryo.

Traduzindo: O Quenya, ou Quendya, era a língua falada pelos Vanyar e Noldor em Aman. Ela não era falada pelos Teleri e Sindar. Em Beleriand o Quenya era uma língua proibida por ordem de Elu Thingol, pois o Rei dos Sindar não queria ouvir a língua dos assassinos de seu povo.

Admito, não foi tão fácil quanto parece. Contudo, esse texto diz muito mais sobre o Quenya do que o que lá está.

Então, alguém se habilita?

Nota: Estou colocando o texto que se inicia como “Quenya, hya Quendya, né lambë quetina ló Vanyar ar Noldor Amanessë…” em domínio público, se é que tenho tal permissão. Qualquer um que quiser pode modificá-lo e utilizá-lo da forma que quiser sem meu consentimento e sem me dar crédito, na esperança que seja um incentivo para que alguém se habilite a tentar dar uma contribuição ao projeto da Wikimedia Incubator.

Vinyar Tengwar 49: Numerais e plural dual nos verbos

Na página 45 do VT49, Tolkien explica o uso dos numerais no Quenya.

Todos os numerais (exceto er “um”) aparecem após o substantivo. Também quando o substantivo vem antes de atta “dois”, ele se mantém no singular. Isso nos leva ao seguinte sistema, utilizando elen “estrela” como exemplo:

  • Er elen. “Uma estrela.” (VT44:17 contraria isso com Eru er “um Deus”)
  • Elen atta. “Duas estrelas.”
  • Eleni neldë. “Três estrelas.”
  • Eleni canta. “Quatro estrelas.”

Outra coisa interessante é que essa explicação acompanha uma das cinco frases volitivas apresentadas no VT49, p. 44: Nai elen atta siluvat aurenna veryanwesto. “Que duas estrelas brilhem no dia de seu casamento.” Note que o verbo sil- está no futuro e também está no plural dual! É a primeira vez que temos um exemplo de verbo com plural dual.

Sobre esse assunto, Helge Fauskanger da Ardalambion diz que “se esse substantivo é o sujeito de um verbo, o verbo recebe a desinência dual -t, portanto elen atta siluvat ‘duas estrelas brilharão'”. Por enquanto eu não possuo acesso direto a uma cópia do VT49, o que limita minha capacidade de checar essa informação, mas eu não seria corajoso o suficiente para dizer que em todas as situações envolvendo o numeral atta o verbo é posto no plural dual.

Para mim essa frase deixa explícito que esse par de estrelas tem um significado muito importante e, portanto, o verbo deveria deixar isso claro através da desinência -t, mas eu não descartaria a possibilidade de que elen atta siluvar é possível. O que impede do dia estar particularmente nublado e apenas duas estrelas quaisquer serem as únicas visíveis no céu? 🙂

Vinyar Tengwar 49: “existirá”, “poder (fazer)”

Vocês não adoram todas essas novidades que o Vinyar Tengwar 49 nos trouxe? Hoje mais duas informações sobre verbos importantes.

A primeira é sobre o verbo ea- “existir”. O futuro desse verbo é euva.

A segunda é um verbo novo na área, ek- (ec-) “estar aberto”; esse verbo pode ser utilizado para expressar a capacidade de fazer algo com a seguinte fórmula:

Ek- + dativo: Eke nin kare sa. “Eu posso fazer isto” (p. 34); literalmente “está aberto para mim fazer isso”.

Vinyar Tengwar 49: O verbo “acreditar” e “ser/estar”

Temos na página 27 do Vinyar Tengwar 49 uma interessante frase: Savin Elessar ar i nánë aran Ondórëo “Eu acredito que Elessar realmente existiu e que ele era um rei de Gondor”.

Savin “eu creio/acredito” é uma grande novidade! Um verbo sav- “acreditar” era necessário, mas ele tem um “modo de usar” que precisa ser levado em conta: “O Q[uenya] savin quando possui um substantivo ou nome ou pronome como objeto direto significa ‘eu acredito que ele/ela/isto realmente existe/existia’.” Palavras do próprio Tolkien.

Outra importante informação trazida por essa frase e outras que aparecem nas páginas 27-31 são as formas do verbo na- “ser/estar”. O pretérito que os escritores de neo-Quenya freqüentemente utilizavam, , foi confirmado, mas nánë parece ser válido (ou ao menos um experimento de Tolkien).

Para deixar o cenário todo mais rico, na p. 28 aparecem dois exemplos do verbo “ser/estar” no pretérito com desinências pronominais: anen “eu fui/estive” e anel “tu foste/estiveste”. A partir desses exemplos é possível criar *anes(ë), *anelwë/*anelvë, *anelmë, *aneldë e *aneltë.

Infelizmente, na nova revisão do seu artigo sobre Quenya, Helge Fauskanger decidiu nivelar por baixo: lista nenyë e nelyë como possibilidades, embora essas formas não sejam atestadas em qualquer lugar do texto. Eu sugiro seguir os exemplos de Tolkien, mas não se espantem se essas formas sugeridas apareçam em uma próxima revisão do Curso de Quenya.

Deixando o pretérito um pouco de lado, aparentemente Tolkien considerou uma forma aorista do verbo “ser/estar”, mas pelo que foi dito até agora me parece que essa forma nunca chegou a ser realmente utilizada. Se for, pelos indicativos ela seria naë. Divagando sobre o assunto, David Salo chegou à uma conclusão interessante e que poderia nos ser muito útil: a forma aorista do verbo na- poderia ser o equivalente ao verbo espanhol (e português) “ser”, enquanto a forma do tempo presente () poderia ser o equivalente ao verbo “estar”. Ah! lembrem que naë vira nai- quando adicionada uma desinência pronominal, como nain “eu sou”!

Por fim, temos atestado anaië para o tempo perfeito do verbo “ser/estar”.

Vinyar Tengwar 49: “então/portanto”, “chegar”, “matar”, e uma alternativa ao caso instrumental

Continuando a série de novidades trazidas pelo Vinyar Tengwar 49, na página 18 Patrick Wynne interpreta a palavra sin da frase Sin Quente Quendingoldo Elendilenna como o inglês thus, que em português poderia ser “então, portanto”.

Agora temos um verbo “chegar”: é †tenya-, sendo o pretérito tennë, na página 23 24. Segundo o Helge Fauskanger, da Ardalambion, este deve ser o primeiro exemplo de um pretérito de verbo primário em -n.

Na página 24 encontramos a frase nahtana ló Túrin “morto por Túrin”. Duas coisas interessantes:

  1. Nahta- é o verbo “matar”, no inglês to slay. O Helge se pergunta se Morinehtardarkness-slayer” em PM:384-85 é na verdade MorinAhtar;
  2. parece ser “uma partícula introduzindo o agente em uma construção passiva”, segundo Helge. Talvez possa substituir o caso instrumental, ele diz.

Vinyar Tengwar 49: “a eles”, “eu dei”, “ou”

Mais três novidades trazidas pelo Vinyar Tengwar 49:

A palavra ten ou téna significa “para eles” (dativo). Anteriormente o Pai Nosso mostrava tien. Fique a vontade para escolher na hora de compor seus poemas e prosas!

Um exemplo do pretérito do verbo anta– “dar” apareceu, e não é *áne! O exemplo antanen “eu dei” aparece na página 14, com a desinência pronominal da 1ª pessoa do singular, o que nos leva a #antanë.

Na mesma página temos a conjunção hya “ou”. Não precisamos mais do Qenya var para nossas composições.

Vinyar Tengwar 49: “Naquele lugar”, “então”, “antes”

Mais algumas que apareceram no Vinyar Tengwar 49: Possuíamos a palavra sinomë “neste lugar” no Juramento de Cirion. Agora temos tanomë para “naquele lugar”. Em uma adição relacionada, significa “então” (compare com “agora”). Lembrando que esse “então” é o inglês then, não o inglês so, para deixar bem claro. Nas listas de palavras do Helge, suplantará san do Qenya.

Aliás, o Helge menciona uma palavra etta para “portanto” (ing. therefore) e a não-utilização de um asterisco antes dela sugere que a palavra aparece no VT49.

Na p. 12 temos mais uma demonstração da maneira estranha que a mente élfica funciona. Citando o Helge:

Os Eldar imaginavam o tempo futuro (tempo que vem “após” o presente) como sendo “antes” deles, portanto a preposição que significa “antes” em relações espaciais significa “após” quando aplicado ao tempo. Portanto, epe como “antes” não contradiz a tradução de epessë como “pós-nome” (apelido). “Antes” no tempo pode ser , ver noa “ontem” (mas em outro manuscrito, a mesma palavra é usada para “amanhã”!).

Lembrem-se todos que nós amamos Tolkien e não deve passar em nenhum momento por nossa cabeça a vontade de xingar ele de qualquer forma, não é mesmo? 🙂

Vinyar Tengwar 49: Plural Partitivo, “Se”, “Talvez”

Mais uma do Vinyar Tengwar 49, agora sobre o plural partitivo, aquele misterioso plural em -li que não tínhamos certeza do significado.

Na página 8, Tolkien confirma que Eldali significa “alguns elfos”, e diz que “Com Eldali o artigo é raramente utilizado.”

Algumas palavras novas apareceram também. Na Frase do Ambidestro temos agora ke ou para “se”. Contudo, o Helge notou que em outro local essas palavras são identificadas como “talvez” (p. 19), e qui como “se”.

Provavelmente o Helge vai nivelar desta forma: (ou ) “talvez” e qui “se”. O extrapolado *ai, utilizado a muito tempo para “se”, não aparecerá mais nas traduções neo-Quenya dele, tampouco no Curso.

Vinyar Tengwar 49: Sistema pronominal de 1968

Nota: Atualizado em 26/07/2007 com a tabela disponível no artigo inglês da Wikipédia sobre Quenya. A tabela foi revisada pelo editor do VT, Carl Hostetter.

A edição 49 do jornal Vinyar Tengwar é provavelmente a mais recheada de informações dos últimos anos! Como são muitas novidades, vou postando elas aos poucos para vocês.

A primeira escolhida é uma que o Helge Fauskanger disse estar esperando há uma década: um sistema pronominal completo do Quenya, datado de 1968! Segue abaixo:

Forma Forma Longa Forma Curta Independente Possessiva
1ª pessoa do sing. -nye -n ni -(i)nya
2ª pessoa do sing. familiar -tye -t tye -tya
2ª pessoa do sing. formal/polida -lye -l lye -lya
3ª pessoa do sing. -se (rarely) -s se -rya
Impessoal sing. -ya
1ª pessoa do pl. incl. -lve/-lwe ve/we -lva/-lwa
1ª pessoa do pl. excl. -lme me -lma
2ª pessoa do pl. -lde -lda
3ª pessoa do pl. -lte/-nte te/tú (dual) -lta/-ntya
Impessoal pl. -r -rya
1ª pessoa dual incl. -ngwe/-ince/-inque vet/wet -ngwa
1ª pessoa dual excl. -mme met -mma
2ª pessoa dual -ste -sta
3ª pessoa dual -ste/-tte -t -sta
Impessoal dual -t -twa

Isso mesmo pessoal! Risquem -ryë da sua lista para a 3ª do singular! É possível que -ntë para “eles” ainda continue, mas em uma situação especial, sendo -ltë o pronome a ser utilizado na maior parte dos casos. Um surpreendente -ldë aparece para “vós” também, deixando o cenário pronominal muito mais rico!