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Isto cheira a coisa de Morgoth… Mais sobre o PE17

Uma informação bem interessante trazida pelo PE17, citada por Helge Fauskanger na E:34319: o nome original em Quenya de Sauron era Mairon “Admirável”.

Por outro lado, seu novo nome, “o Odioso”, pode vir mais do que apenas o seus atos malignos. Discutindo vphan (que gerou a palavra em Q. fána, o corpo angélico dos Ainur), Tolkien menciona que os Maiar, mesmo quando invisíveis, podiam ser reconhecidos através de sua fragrância; sem surpresas, aqueles Maiar corrompidos por Morgoth cheiravam mal. Parece que não havia chuveiros em Utumno… Fauskanger nota que a raiz de onde vem o nome “Sauron” é relacionada com palavras como “pútrido”.

Omentielva Tatya: Pronomes do Quenya, Khuzdul e Parma Eldalamberon 17

Helge Fauskanger voltou do Omentielva Tatya (quenya, Segundo Encontro) que ocorreu na Antuérpia, Bélgica, uma convenção sobre línguas tolkienianas. Ele fez o upload de dois ensaios escritos por B.J. Ward:

A surpresa do evento, ao que parece, foi o inesperado lançamento do Parma Eldalamberon 17, distribuído por Bill Welden durante o evento. Segundo Helge, há “200+ páginas de material pós-SdA” e que esta edição “traz os comentários de Tolkien sobre os vários exemplos de línguas ‘exóticas’ no SdA, e há novas informações sobre o Khuzdul também. A palavra baruk “machados”, é dito ser a forma plural de bark “machado” (p. 85)…”

Em luz desta nova publicação, o artigo sobre derivações em Khuzdul está defasado. Contudo, é uma das raras oportunidades que o leitor atual tem de comparar como, em um único dia, nosso conhecimento muda de maneira radical.

Fonte: E:34301

Tabela de pronomes do Quenya revisada

Há algum tempo atrás, eu postei informações sobre a tabela de pronomes do Quenya feita por Tolkien em 1968-9. Desde lá, essa tabela foi publicada na Wikipédia inglesa, na entrada sobre Quenya.

Como a Wikipédia está sob a GNU Free Documentation License, resolvi utilizar a mesma tabela (embora traduzida) no meu artigo original, que vocês podem ler neste link. Espero que seja útil para todos os compositores.

Sobre o nome italiano “Sellaro”

Nota: O que está escrito abaixo é um exemplo de por que eu não traduzo sobrenomes para as línguas élficas. Descobrir o significado é algo complicado e não há muitas certezas. Se você quer saber mais sobre os italianos no Brasil, talvez o Portal Itália seja um bom lugar para começar.

Recebi uma pergunta nos comentários dos nomes em élfico do Giovanni Sellaro, que me questiona sobre a tradução de seu sobrenome. Minha resposta ficou meio longa, então achei melhor transformá-la em um post inteiro. Não mudei o tom de “resposta”, porque, bem, é uma resposta! 🙂

Monte SellaroGiovanni, não costumo responder a perguntas de sobrenomes, pois é muito difícil obter informações sobre eles. De fato encontrei uma fonte que corrobora com a sua informação de que o nome do Monte Sellaro (à direita) tem a ver com o ato de selar os cavalos para atravessá-lo, o que dá mais força à sua teoria.Mas quer saber a parte irônica disso? Os elfos não selavam os seus cavalos! 😀 Não tenho dúvidas de que os elfos cunharam uma palavra para “sela” (eles precisariam para se comunicar com os humanos), mas o próprio Tolkien nunca inventou uma. O verbo “cavalgar” também é uma grande incógnita para nós.Procurando por fontes, encontrei que a palavra vem da raiz proto indo-européia *sed- “sentar”, formando no caminho até o ing. saddle (“sela”) a palavra proto-germânica *sathulaz, que não parece ser extremamente elaborada (não sou filólogo, então não garanto nada). Nas línguas élficas, aparentemente Tolkien se resolveu por utilizar KHAD como a raiz proto-Eldarin para “sentar”, formando o verbo *har- no Juramento de Cirion.

Mas duvido que isso nos ajude. Ao que me parece, o substantivo saddle criou o verbo to saddle, o que não é possível nas línguas élficas, até onde eu lembre. O mais comum são substantivos verbais, ou seja, substantivos criados a partir de verbos, e não o contrário. Um exemplo em Quenya seria um possível subst. *harat “assento” a partir do v. *har-, mas acho impossível criar um v. ?harata- para um hipotético “assentar” (o exemplo é esdrúxulo, eu sei, mas serve).

Pode lhe reconfortar que nós sabemos como escrever “cavaleiro” em Quenya: roquen. Também é possível criar um verbo *colta- “vestir (alguém ou algo)”, que se utilizado em uma frase como coltanen i rocco “eu vesti o cavalo”, pode-se compreender, por extensão, “selei o cavalo”. Talvez *Roccoltar “selador de cavalos” seja uma construção com algum futuro também.

Tolkien Estate com novo site

A Tolkien Estate (o espólio de J.R.R. Tolkien) lançou um novo site ontem, em comemoração ao lançamento de Os Filhos de Húrin, o novo livro que conta a história de Túrin Turambar e sua família.

O que me chamou a atenção foi o menu superior em Tengwar: O esperado I Chîn Húrin em Sindarin para “Os Filhos de Húrin”, e em Quenya Certar para “FAQ/Perguntas Freqüentes”, um inesperado Natsenómë para “website” e Mentar para “mensagens”. Fico me perguntando se a moda vai pegar entre os sites tolkienianos!

Renk sobre o Dialeto Vanyarin

Da mesma forma como o português possui dialetos, o Quenya também. O dialeto apresentado n’O Senhor dos Anéis é o exílico, falado pelos Noldor que vieram à Terra-média com a rebelião de Fëanor e não haviam feito a viagem de retorno. Contudo, o primeiro e menor clã dos Eldar que chegaram a Valinor, os Vanyar, falavam Quenya também, em um dialeto próprio.

Thorsten Renk decidiu recolher informações sobre este dialeto, e o resultado é o artigo Vanyarin Quenya. Como tudo que o Thorsten escreve, vale a pena ser lido. E, quem sabe, alguma pérola nesse dialeto não pode ser criada baseada nessa informação? 😉

Parma Tyelpelassiva: Atualizações

Para quem não sabe, a Parma Tyelpelassiva (Livro das Folhas Prateadas) é o site oficial do Thorsten Renk, criador do Pedin Edhellen, o primeiro Curso de Sindarin confiável da internet.

Há 5 dias atrás o Thorsten atualizou seu site com uma seção chamada Bêthî ‘n Adûnâyê, que contém poesias em adûnaico, a língua dos Edain. O primeiro poema chama-se Azrubêl (Amante-do-Mar, ou seja, Eärendil 😉 ) e já pode ser lido. Já na seção de Quenya (Quentar ar líri Quenyava) você pode encontrar o Quenta Maewen Sorondoyëo (Conto de Maewen e Sorondo).

Para ambos os textos há uma versão em inglês, o que ajuda na hora da compreensão, mas o valor estético já vale a visita. É uma excelente prática para a pronúncia do Quenya especialmente.

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 2)

Esta é a segunda parte da discussão sobre a qualidade do élfico dos filmes d’O Senhor dos Anéis. Se você não leu a primeira parte, pode acessá-la por este link.

Na mensagem 33732, Bill Welden (membro da E.L.F.) escreveu (todas as ênfases são minhas):

Então, Matthew. Digamos que [Peter Jackson et alii] conseguissem que o próprio Tolkien fizesse as traduções; mas mantivessem sua participação secreta.

Qual você supõe que seria sua avaliação da qualidade das traduções? (Note que haveria mais do que algumas palavras que nós nunca vimos antes.)

Assim como nós iríamos ouvir muitas novas palavras e funções gramaticais e variações dialetais e sinônimos (por que não podem existir duas palavras para “nome”?) – e até mesmo erros – se nós pudéssemos escutar por trás das portas a elfos de verdade falando uns com os outros.

Minha maior esperança para o filme circulava em torno da possibilidade que ele iria criar a impressão de realmente ter sido rodado na Terra-média.

– Bill

P.S.: Eu lanço esta questão neste ângulo pois vai ao núcleo do que fazemos aqui. O padrão pelo qual composições em élfico são julgadas tem um quê das Novas Roupas do Imperador. Isto pode começar a ficar claro se alguém colocasse esse padrão em palavras.

Em outras palavras, Bill Welden fez uma pergunta que assombra os praticantes do Neo-Élfico há muito tempo: como julgar essas novas composições como “corretas” se o próprio Tolkien quebrava suas regras quando compunha?

Seguindo um pedido de Helge Fauskanger na mensagem 33740 para clarificar a sua metáfora, Welden decide utilizar uma metáfora mais fácil de explicar:

[E]stamos todos procurando por gemas em um grande campo, mas somos castigados sempre que nos distanciamos demais do ponto central do campo. O que acontece é que, ao invés de tentar encontrar as gemas nós estamos mais interessados em garantir que não seremos aquele que estará mais longe do centro; mas ao fazê-lo torna-se muito menos provável que encontremos algo.[…]

[…]O campo são todas as possibilidades que Tolkien poderia seguir com o Quenya. O centro do campo é a forma mais provável de qualquer palavra ou função. As gemas são as composições que ele eventualmente faria se fosse dado tempo para as geleiras descerem mais uma vez em Bornemouth.

Tolkien era quase sempre surpreendente em suas composições. Por outro lado, qualquer um que se foque em qual seriam as formas mais prováveis, está na verdade se dando a tarefa de não ser surpreendente; e isso garante que eles sairão com algo diferente do que Tolkien produziria.

Welden finaliza explicando sua primeira metáfora:

Aqui é onde tudo sai dos trilhos: é a presunção de que o Quenya existe e tem guardiões da gramática prontos para cortar dedos.[…]

As roupas do imperador, eu suponho, são as regras do Quenya. Nós não as sabemos. Você [Helge] não as conhece, embora quase todos aqui pensem que você sabe. Eu não as conheço, mesmo que algumas pessoas achem que eu tenho um baú secreto. Mas o maior mito é que Tolkien as conhecia.

E então o imperador deve ser Tolkien. Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. Sou eu que preciso dizer isto? Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. […] [E]le tinha permissão para modificá-la, e isto é aparente em seu trabalho.

Para quem está com medo de que o mundo lingüístico tolkieniano comece a ruir, não tema! 🙂 Welden garante que não está advocando em prol do “vale-tudo” nas línguas élficas. “Em um extremo, cada um de nós tem um julgamento que cada composição nós encontramos; mas há algumas pessoas para as quais o élfico da Grey Company está bem!” e que o que ele deseja “não são palavras em élfico amarradas umas às outras; mas uma Experiência do élfico que eu consegui através de Tolkien em primeiro lugar.” (Elfling 33768) Em troca, Welden pergunta a Thorsten Renk (escritor do Curso de Sindarin) qual é seu padrão para julgar as composições em Neo-Élfico. Ele responde na mensagem 33769:

Em minha experiência, se você quer introduzir alguém a uma língua, é útil manter a ficção de que existe uma gramática de Quenya (ou Sindarin) e que nós sabemos como uma forma seria flexionada.

[…]

Sua sugestão eu veria como um exercício avançado. Obviamente, para chegar mais perto de Tolkien, você já precisa ter visto muito de Tolkien, você precisa ter uma idéia para onde fluem suas idéias, quais eram bem quistas por ele e quais ele descartava facilmente. Poucas pessoas tem o conhecimento para ver isto, certamente uma minoria daqueles tentando compor em élfico. […] Se você me perguntar o que eu julgaria como “bom”, a primeira condição seria o núcleo da estrutura, as idéias que Tolkien não mudou, devem estar certas.

[…]

Então, hoje em dia eu tento experimentar um pouco mais – com as formas do pretérito que eu gosto melhor, com construções vistas em Qenya e coisas do tipo. Mas eu não recomendaria isto para qualquer pessoa, a não ser que ele(a) saiba por exemplo o esquema utilizado por Tolkien para construir palavras das raízes [do Proto-Eldarin].

[…]

Portanto há um caminho a trilhar enquanto se aprende mais, do élfico padrão a re-frasear e usar o élfico atestado até compreender os princípios para derivar suas próprias palavras e, por fim, ter uma opinião de que gramática élfica é aceitável para você, e o que eu acho que as pessoas deveriam fazer depende em onde elas estão neste caminho.

Na parte 3, as considerações finais.

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 1)

No dia 21 de dezembro, a mensagem 33718 da lista Elfling iniciou uma das mais extensas e divertidas discussões sobre o uso pós-Tolkien das suas línguas, rotulados de Neo-Quenya e Neo-Sindarin. Até hoje (6/1/2007) foram escritas 30 mensagens discutindo o tópico, 25 na lista Elfling, 5 na lista Elfling-D (esta última foi criada para aqueles que foram banidos ou censurados na Elfling). Os participantes incluem nomes ilustres, como David Salo (criador dos diálogos e das letras das músicas em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis), Helge Fauskanger (criador do Curso de Quenya), Thorsten Renk (criador do Curso de Sindarin), Bill Welden, Carl Hostetter e Patrick Wynne (membros da Elvish Linguistic Fellowship, os dois últimos via Elfling-D).

A mensagem original é de “Kirsten”, reproduzida abaixo:

Eu sei que algumas pessoas já trabalharam duro para descobrir o que significam os diálogos e a trilha sonora¹ em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis, mas já houve alguma discussão da qualidade das traduções para o élfico usadas nos filmes? Elas são de maneira geral corretas ou alguém já observou algum erro óbvio? Eu não sei sobre vocês, mas eu estou muito interessada nesse aspecto das traduções. Também, o que pode-se dizer das pronúncias? Eu realmente gostaria de ler uma discussão desses assuntos por um grupo de pessoas que conhecem bem as línguas de Tolkien.

Kirsten

Na resposta de Halrawrandir na mensagem 33720 o autor diz que “é necessário concordar” que as traduções foram as melhores possíveis. Contudo, Matthew Dinse na mensagem 33721 disse discordar, e listou “alguns problemas” do Sindarin nos filmes:

  • Uso de aen para voz passiva quando não sabemos qual é sua real função com certeza;
  • Uso de go como uma palavra separada e não um prefixo;
  • Formação do pretérito do Sindarin;
  • Uso de *-ch para “você”;
  • Gerúndios no plural;
  • Conjugação do verbo ista-;
  • Uso de *ae para “se”;
  • Uso de **hanna- como o verbo “agradecer” (ao invés de *anna-, segundo Carl Hostetter);
  • Uso de **ess para “nome”, embora eneth não houvesse sido publicado na época.

Desde essa mensagem de Matthew Dinse 26 outras foram escritas no tópico, criando três ramos diferentes de discussão.

Embora todas as mensagens possuam um valor imenso, manterei o foco apenas no terceiro ramo, criado por Bill Welden na mensagem 33732. O resumo será publicado na próxima mensagem, que você pode acessar por este link..

Fiquem ligados!


¹ Links adicionados pelo tradutor, por motivos de brevidade.